Artigo de Roberto Rufo - Março de 2001
As grandes (esquecidas) Leis Morais - I
O
mundo tenta castigar os que não se conformam (Ralph Waldo
Emerson escritor americano)
Allan Kardec, nos prolegômenos de O Livro dos Espíritos, diz
que os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela
Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles
os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão
instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a
regeneração da humanidade.
Passando-se direto à parte da conclusão, Kardec deduz então
que o Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes : o
das manifestações, o dos princípios e o da filosofia e aplicação
desses princípios.
A aplicação desses princípios está totalmente demarcada na
Parte Terceira do Livro dos Espíritos , intitulada
Das Leis Morais .
Quando se quer falar ou conceituar o que possa vir a ser o
comportamento espírita, trata-se de negligência qualquer
tratado a respeito do assunto que omita essas leis morais.
Ora, é justamente isso o que vem ocorrendo com os periódicos
espíritas, encontros de estudo, simpósios, palestras, onde
inexistem quaisquer análises dos problemas sociais, econômicos,
políticos, do meio-ambiente, da justiça, à luz do Espiritismo.
Na verdade para o movimento espírita , tudo já está resolvido;
preocupar-se com as mazelas de todo tipo é perda de tempo diante
do plano definido pela Providência.
Ou tratam-se de problemas reencarnatórios, ou nada que uma
reforma íntima não possa solucionar, trazendo em seguida as tão
sonhadas benesses materiais e sociais. Portanto, a parte terceira
do L. E. é de uma visível inutilidade, ou material para uma
mera especulação filosófica. Resulta daí o fato de problemas
do cotidiano não serem abordados pelos analistas espíritas.
Quando tentam fazê-lo é de uma forma tão discreta, mas tão
discreta, que se torna fluida ao fim da leitura.
Em seguida analisarei alguns fatos recuperando as leis morais:
- Paraíso maculado
Navio faz barbeiragem e derrama 700.000 litros de óleo no santuário
ecológico de Galápagos. ( Revista Veja 31/01/01).
Vários acidentes desse tipo ocorreram no ano de 2000, pois a
negligência e a ganância, associadas a um modo hedonista de
vida dos tempos atuais, se sobrepõem a quaisquer cuidados
adicionais( com custos maiores) para evitá-los.
Perg. 752 L.E. Poder-se-á ligar o sentimento de crueldade ao
instinto de destruição? R. É o instinto de destruição
no que tem de pior, porquanto, se, algumas vezes, a destruição
constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo.
Ela resulta sempre de uma natureza má.
Essa ganância, que se traduz muitas vezes no atendimento a
prazeres supérfluos , é cruel com a natureza. Em seu livro
Comportamento Espírita , Jaci Regis traça um
caminho interessante para sabermos que algo é supérfluo. Basta
observar se esse algo não é extravagante ( um carro no valor de
U$$ 300.000,00 , por exemplo ).
A natureza não se defende, apenas se vinga. Mas que importância
podem ter alguns pelicanos, iguanas e leões-marinhos, se de uma
forma ou de outra eles evoluirão necessariamente. Talvez por
isso os analistas espíritas deixem o assunto para segundo plano.
- Doença da vaca louca .
A doença da vaca louca, tão em moda, já matou 124 pessoas na
Grã-Bretanha. (O Estado de São Paulo - 28/01/01).
A questão é de saúde pública, antes e acima de qualquer outra
coisa. A culpa dessa doença, segundo os cientistas , é o uso e
o abuso de carnes e ossos de boi na ração de uma animal
ruminante. Ração de peixe ainda passa. Ração de sobras
bovinas para a própria espécie bovina é um atentado aos códigos
de vida, segundo os cientistas.
Acontece que os países ricos e civilizados como Alemanha, França,
Suiça e Holanda possuiam sobras colossais, subsidiadas e
congeladas há décadas de ração bovina. Ou seja, interesses
materialistas se sobrepuzeram à questão da saúde pública.
Perg. 799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o
progresso?
R. Destruindo o materialismo , que é uma das chagas da
sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram
seus verdadeiros interesses ...
Os analistas espíritas passam ao largo dessas questões, pois
estão absolutamente seguros de que a lei de causa e efeito
reencarnatória se incumbirá de colocar as coisas no seu devido
lugar.
- O Cerco da Periferia
Os bairros de classe média estão sendo espremidos por um cinturão
de pobreza e criminalidade que cresce seis vezes mais que a região
central das metrópoles brasileiras. (revista Veja - 24/1/01) .
- O País dos Tributos
Nada é mais enganoso do que a comparação seca das cargas
tributárias do Brasil e dos países desenvolvidos. Além de
pagar percentualmente mais, em relação ao PIB, do que os
outros, menos os europeus ocidentais, o contribuinte brasileiro não
recebe os serviços que paga. (editorial de O Estado de São
Paulo).
Perg. 806 É lei da natureza a desigualdade das condições
sociais?
R. Não; é obra do homem e não de Deus.
Perg. 808 A desigualdade das riquezas não se originará da das
faculdades , em virtude da qual uns dispõem de mais meios de
adquirir bens do que outros?
R. Sim e não. Da velhacaria e do roubo, que dizes ?
O filósofo Olavo de Carvalho, a quem se pode acusar de tudo,
menos de esquerdista, na Revista Época de 26/02/01, acusa o
tucanato de montar a sociedade mais dirigista que se imaginou,
onde há regulamentação para tudo. A distribuição de renda é
péssima, todavia a arrecadação via salários bate recordes
todos os anos. Eu diria que o grande regime vencedor no Brasil
foi o fascismo, em sua filosofia de dirigir coletivamente o
comportamento humano (CPMF, rodízio de veículos etc) .
Para os analistas espíritas, tratam-se de problemas mundanos,
temporais, gotas de água no oceano, grãos de areia no deserto,
diante da grandeza e magnitude da obra divina e eterna. Essas
pessoas estão se esquecendo de que uma doutrina ou idéias não
é tão somente uma teoria que se tem dela, mas os atos e gestos
que demonstramos dessa teoria.
Três coisas muito me preocupam, a saber:
- A aceitação contemplativa do mundo (Vide Roberto Shiniashiki,
Deepak Chopra).
- A visão consumista e hedonista do mundo (todos os dias
elogiados pela mídia interessada no Ibope)
- A abertura total de quaisquer misticismos ao ideário espírita,
corrompendo ainda mais a falta de pensamento social do movimento
espírita. Um exemplo recente do que acabo de relatar foi o I
ENCOESP Encontro de entidades espíritas no parque Anhembi
em São Paulo em Janeiro de 2001.
Era na verdade um Parque Xangai de idéias espíritas,
alcançando o efeito desejado pela USE/SP, que foi o de ninguém
querer ficar fora e com isso não ter os seus 15 minutos de fama.
Eles estão rindo até agora!
Roberto Rufo é bacharel em filosofia