Artigo de Wilmar Coelho dos Santos - Junho de 2001

Justiça Social

Introdução
Síntese histórica: Desde a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra nos meados do século 18, a questão social passou a preocupar os espíritos sensíveis à sorte dos menos favorecidos economicamente, em face do desequilíbrio crescente entre a acumulação de capital, de um lado e a proletarização do trabalho, do outro.
Enquanto o liberalismo econômico firma-se como doutrina dominante, a ele se contrapõem as correntes socialistas, que busca a Justiça Social por caminho diferentes: o socialismo espiritualista tenta soluções através da cooperação do capital e do trabalho, ao passo que o socialismo marxista, propugna pela destruição do capitalismo mediante a luta de classe.
Desenvolvimento
O ano de 1848 é um marco histórico. Surgem novas abordagens da questão social a partir das revoluções operarias na França e na Alemanha. O socialismo de Proudhon, em luta aberta com a filosofia individualista, propõe o mutualismo como forma ideal de organização econômica. Karl Marx e Friedrich Engel publicam \, em fevereiro de 1848, o Manifesto Comunista. E, por coincidência ou não, no mesmo ano, apenas um mês depois, ou seja, em 31 de março, eclodem os fenômenos mediúnicos de Hydesville (EUA), com os quais se inicia uma outra revolução: a Revolução Espiritual (Irmãs Fox).
É nesse ambiente que o codificador do Espiritismo cumpre a sua missão perante as correntes de pensamento em conflito.
Questões sobre trabalho, crescimento demográfico, uso e utilização dos bens terrenos, desigualdades sociais, e da riquezas, direito de propriedade, justiça, amor e caridade e tantas outras mais, de cunho eminentemente social, são abordados pela doutrina espírita, objetivando o homem como Espírito imortal, regido pelo livre-arbítrio e pela lei de causa e efeito, com responsabilidades e culpas adquiridas no passado, em vidas sucessivas, através da reencarnação.
A Doutrina Espírita que tem visão global dos problemas sociais não apresenta a menor tendência extremista (?).
A Justiça Social que sensibilizou o papa Leão XIII, no final do século 19, levando-o a editar a Rerum Novarum em 15 de maio de 1891, como resposta e crítica da igreja aos excessos do liberalismo econômico e ao comunismo, já estava equacionada desde 18 de abril de 1857, ou seja, 34 anos ante daquele encíclica papel em O Livro dos Espíritos que representa o Manifesto da Espiritualidade encaminhando a solução dos problemas do homem e da sociedade, entre as quais os de ordem econômica e social!!!
Questões Sociais Causadoras da Injustiça Social
· trabalho e suas relações ( patrões x empregados)
· crescimento demográfico (aumento populacional desordenado)
· uso dos bens terrenos ( direito de propriedade), falta de moradias
· desigualdades sociais e das riquezas, desemprego, fome
· questão da terra, êxodo rural, latifúndio e miséria agrária
· salários baixos, lucros financeiros, juros desleais
· falta de caridade, ausência de solidariedade, ganância e caos social
· falta de liberdade, de igualdade e de fraternidade.
Terapêutica Social Espírita
· salários justos, moradia, conforto material e espiritual
· fim do egoísmo, mais amor ao próximo, maior respeito
· maior distribuição de renda, ampliação de oportunidades a todos
· maior fluxo de recursos à saúde, à educação e ao trabalho
· valorização ao homem do campo, espalhando a doutrina cristã
· cultura filosófica espírita mais disseminada para maior número de gente
· apoio na família, culto no lar, instrução e educação voltadas para o bem
· Jesus, como meta de amor e paz, para o fim das injustiças
· Kardec, como luz nas trevas, espiritualização da Terra
· Deus... a única esperança. certeza da paz, amor e do progresso.
Conclusão
A nova geração marchará pois, para a realização de todas as idéias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado. Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará com ela no mesmo terreno. Aos homens progressistas se deparará mas idéias espíritas, poderosa alavanca e o Espiritismo achará , nos novos homens, Espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo.
A Justiça Social, na visão espírita, nasce da consciência de cada um, inundando o coração, enaltecendo a paz interior, herança maior de Kardec, sob as benção de Jesus, sob as vista de Deus
Reflexões
Vencido o egoísmo, será mais fácil extirpar as outras paixões que corroem o coração humano (Léon Denis)
A justiça social ficará sempre abalada quando for defrontada de frente com a iniquidade da repartição de rendas, provocando o caos entre as classes sociais.
O Espiritismo embora compreenda e explique certos fenômenos sociais e econômicos, através da Lei da Reencarnação, tem que ser eminentemente revolucionário no sentido de reivindicar as mudanças da estrutura da sociedade, combatendo a concentração da riqueza e a ausência da fraternidade que significam a manutenção dos privilégios e dos excessos no uso dos bens, das riquezas e do poder.
A vida de Jesus e dos apóstolos aos lado da população cristã de Jerusalém era a demonstração prática dos ensinamentos que pregavam a fraternidade e a vida comunitária.
O mais amplo sentido da Justiça Social, segundo a visão do Espiritismo é a que está insculpida na consciência humanas que impulsiona o homem a defender os seus direitos, como também respeitar o direito alheio.
“O Espiritismo não cria a renovação social, a natureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade.” (Allan Kardec)

MANIFESTO MATERIALISTA // MANIFESTO ESPIRITUALISTA

Marx e Engels // Kardec
Luta de classes // Luta de idéias
Organização proletária // Organização sócio-moral
Tomada do poder // Tomada de consciência
Evolução do socialismo // Evolução do Espiritismo
Clímax filosófico: comunismo // Clímax filosófico: espiritualismo
Sociedade comum, sem classes // Sociedade: homem ser social
Luta contra a escravidão do trabalho // Luta contra a escravidão religiosa
Revolução no modo de trabalhar // Revolução no modo de pensar
Fim da exploração do homem // Fim da exploração do Espírito
Justiça salarial: valorização do homem // Justiça social: valorização do Espírito
“Proletários, uni-vos” // Espíritas, uni-vos

Wilmar Coelho dos Santos é sociólogo e reside em Juiz de Fora- MG.