Artigo de Eugênio Lara - Maio de 2001
As novas gerações desconhecem muitos
intelectuais espíritas. Há brasileiros, latino-americanos,
europeus que deixaram uma vasta contribuição à cultura espírita
e, no entanto, por diversos fatores que não cabem ser analisados
aqui, permanecem como ilustres desconhecidos entre os próprios
espíritas.
Pretendo focalizar um desses intelectuais que deixam saudade e
chegam a ser insubstituíveis. Trata-se do grande Carlos
Imbassahy, escritor e orador espírita baiano, nascido em 1884 e
que viveu grande parte de sua vida em Niterói-RJ, até falecer
em 1969.
Se Deolindo Amorim notabilizou-se como um didata do Espiritismo e
Herculano Pires como um jornalista-filósofo, Carlos Imbassahy
foi o erudito por excelência, um homem de formação autodidata,
com uma vasta cultura e um conhecimento interdisciplinar que
causava admiração até entre os inimigos do Espiritismo.
Ele viveu numa época em que o movimento espírita ainda se
firmava como corrente filosófica espiritualista e também como
movimento religioso. Polemizou principalmente com pensadores católicos,
pois a Igreja via no Espiritismo um inimigo poderoso que poderia
abalar sua catequese, tirando-lhe adeptos e competindo com ela no
mercado religioso.
Dirigiu durante muitos anos a revista Reformador, órgão de
divulgação da Federação Espírita Brasileira, onde foi
redator, enquanto Guillon Ribeiro foi presidente, sem no entanto
aderir ao religiosismo dos febianos. Suas posições
anti-roustainguistas eram notórias, principalmente nas colunas
de resposta a perguntas de leitores que manteve em vários
jornais. Em O Mundo Espírita, periódico do Paraná, manifestou
diversas vezes sua oposição ao roustainguismo, sem adjetivações
desnecessárias, sem destempero, sempre com elegância e bom
humor.
Aliás, considero o texto claro, substancioso e elegante de
Imbassahy como o mais belo que já surgiu no movimento espírita.
Ninguém até hoje conseguiu chegar no mesmo nível. Era um
intelectual completo. Não abusava de sua cultura mas também não
escondia de ninguém sua formação erudita. Um texto escorreito,
fluente e preciso. Não dá para tirar e nem acrescentar coisa
alguma.
Não o conheci pessoalmente. Quando ele faleceu ainda não era
espírita. E sinto saudades de alguém que não conheci.
Sentimento estranho que talvez um dia possa vir a entender. Mas,
mesmo assim, imagino que sua oratória, com as tiradas
bem-humoradas que só ele sabia fazer, criava um ambiente de
descontração propício para a exposição de profundos
conceitos, de idéias difíceis de serem apreendidas.
Se destacou também como ativista, orador e dirigente espírita.
Participou ativamente de quase todos os congressos de jornalistas
e escritores espíritas, colaborou com Leopoldo Machado no
movimento juvenil espírita.
Freud e as Manifestações da Alma, A Mediunidade e a Lei, O Que
é a Morte, Evolução, Hipóteses em Parapsicologia, dentre
outros, são alguns títulos da vasta obra que saiu de sua lavra.
Vale a pena conhecer o pensamento daquele que é considerado um
dos maiores intelectuais espíritas que o Brasil já conheceu. Um
homem inesquecível, cuja vida foi um exemplo vivo das idéias
que defendeu.