Artigo de Alexandre Cardia Machado - Junho de 2001
Eutanásia, matéria de capa da revista
Superinteressante de março de 2001, convoca todos a pensar sobre
a seriedade do tema. Normalmente centrado na questão moral de
tirarmos a vida de uma pessoa mas, na verdade, como bem aborda a
revista, a questão abrange o esforço inútil na tentativa de
prorrogar a morte, a questão do custo e consequências à família
e ao Estado.
Analisaremos também a posição de Kardec.
O artigo da Superinteressante inicia a discussão a partir do
fato de a Holanda estar prestes a aprovar uma lei que permitirá
a prática da eutanásia por parte dos médicos holandeses. Os
parlamentares estão apoiados por 92% da população, no mês de
abril.
A lei foi de fato aprovada.
O que faz os holandeses pensarem tão diferente da população de
países de cultura fortemente católica? Talvez uma análise na
história desse país, que foi dominado pela Espanha e pela Santa
Inquisição por 200 anos e que teve de lutar por mais 30 anos
para se libertar, ajuda-nos a entender. A Holanda é um país de
maioria protestante, rico, sem grandes problemas sociais, com uma
tradição pelos movimentos de vanguarda.
Os grandes propulsores da legalização da eutanásia na Holanda
são: tratamentos caríssimos de UTI que prolongam o sofrimento
do paciente e dos familiares, esvaindo os seus recursos
financeiros, piorando a condição da família em sobreviver aos
danos da perda.
A inutilidade do tratamento e o direito do paciente a uma morte
digna.
Evidentemente que a legislação colocará limites claros para
que a eutanásia não se tranforme num instrumento de eliminação
de pessoas indesejáveis para uma dada sociedade,
transformando-se num instrumento de holocausto. Não me
estenderei no artigo da revista e convido os leitores a lê-lo.
A Fatalidade Segundo o Espiritismo
A questão número 854 de O Livro dos Espíritos aborda o esforço
em combater o momento final da morte,
Do fato de ser infalível a hora da morte, poder-se-á
deduzir que sejam inúteis as precauções que tomemos para evitá-la?
Não, visto que as precauções que tomais vos são
sugeridas com o fito de evitardes a morte que vos ameaça. São
um dos meios empregados para que ela não se dê.
Ou seja, se analisarmos sob esta ótica, é válido tentarmos
estender ao máximo a vida de um paciente, pois esta seria a
vontade de Deus, segundo os Espíritos. Assim, o homem deve sim
pesquisar e a ciência não deve, de maneira alguma impor limites
a este avanço. No entanto, não podemos ignorar que tratando-se
de sistemas de saúde, sempre haverão limites econômicos aos
tratamentos.
No campo das idéias, deveríamos tentar o prolongamento. No
campo prático buscaremos fazer o máximo dentro dos limites de
recursos e sofrimentos familiares e do paciente.
O Direito de Decisão da Hora da Morte O Suicídio Segundo
o Espiritismo
A questão número 953 de O Livro dos Espíritos:
- Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível,
será culpada se abreviar de alguns instantes os seus
sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte?
- É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe
marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, mau
grado às aparencias, esse termo tenha chegado; de que um socorro
inesperado não venha no último momento?
a. - Concebe-se que, nas circunstâncias ordinárias, o suicídio
seja condenável;mas, estamos figurando o caso em que a morte é
inevitável e em que a vida só é encurtada de alguns instantes.
É sempre uma falta de resignação e de submissão à
vontade do Criador.
b. - Quais, nesse caso, as consequências de tal ato?
Uma expiação proporcionada, como sempre, à gravidade da
falta, de acordo com as circunstâncias.
Mais uma vez podemos concluir que não nos cabe tomar decisões
sobre a determinação da hora da morte, porém, a existência do
livre-arbítrio permitirá ao paciente tomar uma decisão, mesmo
sabendo que haverá conseqüências em outras vidas. Sabemos que
Deus saberá também julgar as intenções e as condições em
que a decisão será tomada.
Assim, fica clara a opção pela vida do Espiritismo. Logo, a
legalização da eutanásia em nada melhora a sociedade, ela é
uma solução prática para que toda a sociedade lave as mãos,
pagando menos impostos, pagando mensalidades menores nos planos
de saúde.
Enfim acredito que por traz de tudo temos o egoísmo. Ainda que
pontualmente aceitemos, no limite, a eutanásia como uma saída
digna para uma morte extremamente sofrida. A sua legalização e
aplicação em larga escala, transforma a morte em uma questão
econômica e amoral.
Alexandre Cardia Machado é engenheiro e colaborador do Abertura.