Artigo de Alexandre Cardia Machado - Janeiro / Fevereiro de 2001

O que poderemos esperar dos céus neste 3º milênio

Introdução
Nesta primeira edição do Abertura, na abertura do terceiro milênio nos coube analisar a evolução do conhecimento humano e espiritual a respeito do Universo que nos cerca. Este Universo que já foi objeto de todo o tipo de especulações: os sete céus da Teosofia, a morada de Deus e dos espíritos à Astrologia. Nos últimos 1000 anos partimos do conhecimento de cerca de 2700 astros celestes para um limite de 10 bilhões de anos luz ,que contém bilhões de estrelas.
O assunto é de particular interesse do Espiritismo, pois tem a ver com o conhecimento de onde viemos, do que é a vida, onde ela se manifesta, a pluralidade dos mundos habitados e qual o destino do nosso planeta.
A alguns poucos anos atrás, o maior risco à sobrevivência da espécie humana eram os próprios humanos através da bomba H. Este risco ainda existe, mas tudo leva a crer que uma guerra nuclear seja absolutamente improvável.
No entanto, um choque com um asteróide, semelhante àquele que eliminou os dinossauros não está absolutamente fora de consideração.
A vida em outros planetas do sistema solar que há dez anos atrás era totalmente improvável reaparece como uma possibilidade científica no final do segundo milênio: a descoberta de gelo na Lua, a possibilidade de existência de água no subsolo de Marte e a descoberta de gelo em Europa, satélite de Júpiter. São especulações que deveremos aprofundar no artigo.
A pluralidade das existências é um princípio do Espiritismo, acreditamos que o Espírito, assim como a matéria, estão por todas as partes, portanto é nossa missão procurar por seus indícios.
Os Próximos Anos
Podemos esperar muitas novidades nos próximos anos, a astronomia divide-se em Cosmogonia ou a ciência que busca desvendar o nascimento do universo confundindo-se, no seu limite muitas vezes com a Filosofia e a Metafísica e de outro lado a Astrofísica, mais voltada para o conhecimento das estruturas espaciais.
Nos dias de hoje, a astronomia tornou-se uma mania mundial, com milhares de Astrônomos amadores. Estes são os principais descobridores de cometas e asteróides. Evidentemente que por limites de recursos eles se utilizam de telescópios refratores, óticos e binóculos em busca destes astros no limite do sistema solar. A Internet e os computadores fazem com que atualmente, um astrônomo amador tenha mais sucesso e possibilidade de encontrar um astro errante do que um astrônomo profissional no telescópio de Monte Palomar em 1950. Sistemas eletrônicos permitem posicionar automaticamente um telescópio no quintal de nossa casa, com a mesma precisão que tínhamos em 1950, com muito mais velocidade, a um custo de pouco mais de R$ 5 000,00.
A que se dedica este grupo? A encontrar cometas e dar-lhes o seu nome, e a buscar asteróides, estes últimos existem em abundância no espaço compreendido pelas órbitas da Terra, Marte e principalmente entre Marte e Júpiter. Júpiter, este planeta gigante, por seu campo gravitacional e magnético pode e o faz, com muita freqüência, alterar a órbita destes asteróides, e esta alteração pode fazer com que um destes blocos de granito cruze a órbita terrestre.
A última ocorrência deste tipo foi em 1972, quando um meteoro de apenas 13 metros de diâmetro cruzou o céu da Terra, errando o alvo por apenas 40 quilômetros, sobre a costa oeste dos EUA. Nesta década, um objeto muito maior, com cerca de 1 km de diâmetro, passou na mesma distância entre a Terra e a Lua, o que no espaço sideral é muito perto. Existem hoje diversas organizações não governamentais, vigiando o espaço, chamam-se NEO (Near Earth Object) Task Force ou seja, Forças Tarefas de busca de Objetos Próximos da Terra.
Mas os meteoros podem não ser somente destrutivos eles podem também ser mensageiros celestes na verdadeira acepção da palavra. Em muitos deles pudemos encontrar a presença de aminoácidos que sabemos ser a base da vida, vida encarnada que fique bem claro. A Terra é bombardeada com milhares de meteoros e alguns meteoritos sobrevivem à entrada na atmosfera, a maior parte deles proveniente de Marte, que estão vagando no espaço por cerca de 4 bilhões de anos, desde a época dos grandes impactos de meteoros na Terra e em Marte, algum deles pode até ter trazido de Marte a vida para a Terra, algum mais tarde pode ter destruído os dinossauros. Só estes dois aspectos do conhecimento destes bólidos já seriam suficientes para estudá-los e procurá-los no espaço.
A Nasa espera até 2010 catalogar todos os asteróides existentes próximos à Terra com diâmetro superior a 1 km, mas isto pode não ser suficiente. Portanto, esta vigilância de milhares de amadores é tão importante.
Além dos asteróides, também os cometas são importantes. Eles normalmente ocupam o chamado cinturão de Oort, que ocupa uma região entre 0,8 a 1,6 anos luz de distância do Sol. Diferentemente dos planetas que ocupam o mesmo plano no espaço este cinturão tem características esféricas. De tempos em tempos o Sol aproxima-se de outras estrelas e esta aproximação acaba por alterar a órbita destes astros que são formados por gelo, poeira e alguns gases, quando isto ocorre temos a chance de presenciar um dos mais belos espetáculos da natureza.
Por diversas razões, temos cerca de 135 cometas conhecidos com órbita regular que variam entre 3,3 anos a 76 no caso do cometa Halley, por certo o mais estudado até hoje. Além do eventual risco de choque entre um cometa e os planetas, como aconteceu com o cometa Shumacher – Levy em 1994, gerando um espetáculo acompanhado por toda a comunidade astronômica.
O grande interesse científico em relação aos cometas está no fato de tratarem-se de fósseis espaciais, isolados no espaço desde a formação do sistema solar, portanto analisar em detalhe um destes permitirá ao homem saber como se formaram e conhecer a petrografia, os minerais presentes a 4,6 bilhões de anos. Em 2003 a Agencia Espacial Européia lançará a sonda Rosetta em direção ao cometa Wirtanen, devendo pousar no mesmo em 2012.
Caso encontremos aminoácidos ou estruturas protéicas nestes objetos saberemos que a possibilidade de vida já estava presente nos primórdios da formação do Sistema Solar. Sabemos que a cada ser vivo temos associado a presença de um princípio espiritual, temos portanto todo o interesse em acompanhar estes estudos.
Nos próximos anos teremos grandes descobertas provenientes de naves cada vez mais automatizadas, tanto em Marte como na Lua, a Estação Espacial Internacional — Alpha, terá um charme especial, pois tornar-se-á o objeto mais brilhante no céu, só perdendo para o Sol e a Lua. Desta estação poderão sair os próximos vôos habitados para a Lua e Marte.
Em contrapartida a estação Soviética Mir estará reentrando na atmosfera neste mês de fevereiro, de forma controlada, mas sempre resultando num risco aos encarnados, a estação espacial Skylab na década de 80 ao reentrar na atmosfera além de propiciar um espetáculo visual, deu um susto tremendo em um fazendeiro australiano que recebeu o impacto bem próximo de sua casa, de uma estrutura com cerca de 2 metros de comprimento.
A pesquisa de sistemas planetários continuará e certamente descobriremos que sistemas como estes são absolutamente freqüentes. Hoje já detectamos cerca de 20 sistemas deste tipo, o projeto de um telescópio espacial especificamente para este fim trará muito mais precisão e acuidade visual para as estrelas que estejam a uma distância de cerca de 40 anos luz, ou seja as estrelas vizinhas ao Sol (alfa de Centauro está a 3,5 anos luz – a estrela mais próxima do Sol – para quem tiver interesse ela é facílima de ser avistada, se olharmos para o céu em direção ao Cruzeiro do Sul, existem duas estrelas de grande magnitude logo abaixo, na direção do eixo menor da cruz. A estrela mais abaixo é a alfa de centauro, na verdade uma estrela dupla, ou seja uma estrela visível e uma anã negra).
Serão nestes vizinhos que a humanidade irá procurar por vida inteligente no próximo milênio.
No Terceiro Milênio
A descoberta da vida fora do planeta, este será para mim a grande descoberta do milênio. Onde deveremos buscar esta vida?
Acredito que no sistema solar as pesquisas devam se concentrar em três pontos:
Marte, as luas de Júpiter e a Lua, esta última a probabilidade é muito pequena, mas a confirmação da existência de gelo em uma cratera do polo transformará a Lua na plataforma de lançamento de missões espaciais, a custo muito mais baixo. Colônias humanas poderão ser criadas para exploração espacial, pesquisa astronômica e aproveitamento industrial da gravidade menor existente, que permitirá a produção de semicondutores e ligas especiais.
Marte, por sua semelhança física com a Terra, um passado muito parecido pode conter algum tipo de vida microscópica sob a superfície e próximo dos pólos.
As luas de Júpiter, por sua variedade, trazem algumas esperanças. Europa pela presença de água e Io pela existência de vulcanismos são os melhores pontos para buscarmos a presença de vida. Os grandes planetas, Júpiter, Saturno, Netuno e Urano por não possuírem superfície sólida estão em principio descartados.
A busca de sinais de rádio vindo de outras galáxias (busca de vida inteligente) e a pesquisa de sistemas planetários fora do sistema solar, devem nos trazer grandes surpresas neste milênio.
Em 1609 Galileu Galilei criou o telescópio e desde então as descobertas não param e muito podemos esperar do novo milênio.

Alexandre Cardia Machado é engenheiro e colaborador do Abertura. Reside em Mogi das Cruzes. SP.