Artigo de Luiz Damasceno e Nina Lemos - Agosto de 2001
Partindo do pressuposto da inexorabilidade da lei
do progresso, com os homens e, metaforicamente, até sem os
homens e apesar deles, nestes tempos, futuramente, reinará
a verdadeira fraternidade. Acreditamos que os homens hão de se
desenvolver globalmente, devido não só a sua brilhante inteligência,
mas, sobretudo, ao seu esmerado sentimento: as duas asas
do nosso vôo ascensional.
E para que isso venha acontecer, a educação, no seu sentido
amplo, abrangente, a educação transformadora há de ser
viabilizada.
Nesse contexto, tendo-se em conta a lei de evolução, os
valores, ora vigentes, terão que ser postos à prova e os atuais
paradigmas modificar-se-ão. Nesse processamento, dar-se-á uma
seleção de valores, dos quais prevalecerão aqueles que
estiverem de acordo com as leis da natureza que,
providencialmente, os selecionará, pois, estando estes novos
valores, respaldados nas leis divinas ou naturais, eternas e imutáveis,
serão valores permanentes e universais e, conseqüentemente,
compatibilizados com a ética (a compromissada com a
fraternidade) favorecendo, desse modo, o progresso em nosso
planeta.
Em adendo, eis o que diz o codificador: (...) quando a lei
de Deus constituir por toda parte a base da lei humana, os povos
praticarão a caridade de um para com outro, como os indivíduos
de homens para homens, vivendo felizes e em paz (...)
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, 1857, q.789) (grifos
nossos).
A democracia que Lincoln apregoava: emanada da população (do
povo), feita com a participação popular (pelo povo) e visando o
bem-estar humano (para o povo), poderá vir a ser edificada,
inclusive, por meio das idéias de justiça, de liberdade e do
esgotamento de todas as discussões pertinentes, podendo-se até
chegar a um dinâmico equilíbrio consensual e democrático.
Acordo este construído entre os interlocutores, que passam a ser
compreenderem (sem, contudo, necessariamente concordarem), após
sólidas argumentações intercambiadas entre eles (e não de
imposições unilaterais), que justifiquem este acordo, o qual
vem caracterizado pelo diálogo, por meio do qual os atores
sociais buscam conjuntamente, soluções. Havendo interações de
ordem criadora, onde há solidariedade, colaboração mútua,
busca-se fortalecer a convergência de idéias, capaz de promover
a inclusão, contemplando a diversidade, a pluriculturalidade,
oportunizando o encontro das diferenças, as quais devem ser
valorizadas, com um profundo respeito ao outro e não uma cultura
homogeneizadora, que abdica das discussões, do confronto, do
exercício do conflito bem administrado, autocontrolado, mediante
o qual todos podem sair vencedores, devido ao harmonizador
processo educativo. Caso contrário, poderá acontecer que a tal
cultura massificadora, despótica, monopolizadora, autoritária,
propicie, entre outros prejuízos, a alienação, o
totalitarismo, o fundamentalismo religioso, enfim, a subcidadania
que é ameaçadora da democracia.
Em 1946, após a 2ª guerra, Einstein fez um apelo às Nações
Unidas para que fosse constituído um governo mundial para evitar
outras guerras (cf.Einstein, A. Jornal da Ciência, 172/1999, pág.
12) assim como os habitantes de um país são co-responsáveis
pelo destino, os povos, igualmente são co-responsáveis pelo da
humanidade.
Outrossim, pensamos que com o concurso das pesquisas, da ciência,
da arte, das novas tecnologias, da infotecnificação, da
globalização simétrica e de outros instrumentos, dos quais
precisamos aprender a deles tirar proveito, em benefício
da humanidade, no sentido de melhorar as nossas atuais condições
de vida. Assim há de que se habilitar o homem na construção de
uma democracia mundial sem fronteiras, ajudando-o a educar-se,
harmônica e progressivamente, em todos os sentidos, a fim de
transformar-se num homem de bem. Isto é, um homem com auto-educação,
integralmente, no qual se realiza a formação do cidadão
(humano) com a edificação do homem (espiritual). O estar no
mundo sem ser mundano. Homem este a conquistar, a pouco e pouco,
o saber que ama e o amor que sabe: ser feliz.
Neste desiderato o Espiritismo muito pode contribuir, eis que nos
diz o seu insigne Codificador: O fim essencial do
Espiritismo é melhorar os homens. Ninguém procure nele senão o
que pode concorrer para seu progresso moral e intelectual.
(Kardec, A - O Espiritismo na sua Expressão mais Simples, p.
27).
Há que se privilegiar, por conseguinte, a hegemonia
intelecto-moral na arquitetura dessa democracia mundial, quando
então, a moral (fruto) há de estar tão desenvolvida quanto a
inteligência (flor) (Kardec, A - O Livro dos Espíritos, 1957,
q.791, pág. 322) onde os seus clarividentes participantes serão
protagonistas da ação de organização de uma política democrática
na qual, simultaneamente, se busque entre outros a justiça e a
liberdade: o direito de igualdade de oportunidades, a participação
ativa dos indivíduos solidariamente na apropriação e repartição
das riquezas segundo seus próprios méritos. Sujeitos-produtores
esses, falantes, obviamente, de uma língua neutra internacional
(o Esperanto, por exemplo, vem sobrevivendo galhardamente, como
uma segunda língua dos paises) vão tecendo, gradativamente, uma
rede de comunicação democrática, capacitando seus
atores-autores a se alastrarem mundialmente e a se expressarem
com autonomia e responsavelmente: pensar e agir, livremente.
Luis Damasceno e Nina Lemos são coordenadores do Movimento Pelo
Menos Kardec, do Rio de Janeiro-RJ, onde residem.