Artigo de Luiz Damaceno Lemos e Nina Maria Cabral Lemos - Março de 2001

Quem tem Costas Largas ?

Ciência sem consciência, não é senão ruína da alma.
Rabelais

É muito cômodo, parece-nos, lançar toda a culpa das nossas desditas na globalização, no mercado, da tecnologia. No meio ambiente (degradação ecológica, flora e fauna, mar, atmosfera, rios e montanhas...) no Governo (Executivo, Legislativo e Judiciário) nos sistemas, no capitalismo, no socialismo, nas religiões, na mídia, nas tentações, etecetera, etecetera e tal. Eles têm costas largas!
Mas onde estão as verdadeiras causas? Como sanar os defeitos, quando perniciosos?
Quem faz acontecer a globalização assimétrica, o desrespeito ao meio ambiente, a incredulidade nas idéias religiosas, a subcidadania, a exclusão, os desperdícios generalizados, principalmente do potencial humano, a mídia manipuladora, o capital volátil, má distribuição da riquezas, os governos autoritários, as guerras, fira, quente, armada, santa, fiscal ou sem fiscal? Somos nós, o homem,
Daí a conclusão, a tecnologia, o mercado, a globalização, as relações entre os seres humanos entre si e com o meio ambiente, a religião, a cidadania, comunicação, o governo, os sistemas políticos, educacionais, econômicos, religiosos, somos nós!
Se é assim, se o homem é o protagonista, porque é sob sua intervenção que surgem e se desenvolvem as tecnologias, as religiões, o mercado, a globalização... então a culpa dos seus desregramentos e desvios danosos, enfim, do mau uso é de quem os elabora, aceita e executa.
Nós, os verdadeiros culpados, conscientes ou não. Então, se de fato queremos acabar com os males advindos dessas áreas, devido à ganância, prepotência do homem, é preciso desconstruir indo até as suas causas, secando-as. E não ficar estático, manipulado, “chorando sobre o leite derramado”, procurando um “bode expiatório”como culpado.
Não é verdade? Qual a sua opinião?
Por outro lado, cabe-nos saber tirar partido da globalização, da tecnologia, do meio ambiente, em prol do bem-estar humano, desde os dias de hoje e para o porvir.
Assim como é perda de tempo, desperdício incomensurável e uma tremenda parvalhice querer desentortar a “sombra” torta do bambu, efeito, ao invés de ir à origem , o bambu, desentortando-o, a causa, o qual, aprumado, projetará sobra alinhada. Pueril!...
Analogamente, é fundamental que se ajude o homem a auto-educar-se integralmente, sobretudo a educação do caráter, que é o caráter mesmo da educação e, por decorrência, as suas produções serão de qualidade, ou seja, o homem verdadeiramente educado em todas as dimensões, a educação global, que tem a ética compromissada com a fraternidade como sua diretriz básica norteando esse homem assim auto-educado, poderá fazer acontecer, pouco a pouco, a excelência, construindo paulatinamente um mundo melhor, com melhor qualidade de vida global, onde, inclusive, far-se-á bom uso da tecnologia, globalização, comunicação etc.
Ora, considerando que os habitantes de um país são co-responsáveis pelo seu destino, e tendo em vista a nossa atual realidade, a qual idealizamos transformar para melhor, desde o presente e para o futuro, a partir de nossas crianças, cumpre-nos para tanto, projetar-se-nos para frente, buscando a prospectiva de um futuro alvissareiro, iniciando no presente, elaborando e implementando, desde hoje, projetos educacionais, priorizando a educação transformadora. Educação é investimento.
Logo, se queremos realmente uma nação onde nós, seus habitantes, desfrutemos de melhores condições de vida, nos sentindo mais felizes, a começar pela infância e para o futuro, é preciso focar, as pessoas, privilegiar os valores, permanentes e universais e isto implica, entre outros, em nós, o povo, pressionarmos nossas lideranças, leigas e religiosas, inclusive as classes dirigentes, a inadiavelmente investir no social, já! Uma nação não mereceria salvação se ficasse parada, esperando um salvador.

Nina e Luiz Lemos são dirigentes da Equipe “Pelo Menos Kardec”, no Rio de Janeiro-RJ. E-mail: ninlemos@connection.com.br