Capa - Janeiro / Fevereiro de 2001
Editorial
O 1º Encontro Espírita do Estado de São Paulo
(Encoesp) apresentou alguma facetas interessantes de se discutir.
Nele se apresentaram livremente idéias que estão aí: poucas
verdadeiramente espíritas, outras quase espíritas e,
finalmente, as que não são decididamente espíritas, mas que se
apresentam ou se confundem no imaginário cultural, ou que
procuram abrigo no Espiritismo brasileiro.
O evento mostrou essa realidade, sem pretender estabelecer
qualquer diretriz, mantendo o comportamento do Espiritismo oficial
que sustenta, centenariamente, uma atitude de tal forma
conveniente que é dificil afirmar se existe um verdadeiro
pensamento kardecista dominando o movimento espírita.
A vertente majoritária, oficial, abandonou o sentido
real do pensamento de Allan Kardec, mergulhando no mar poluído
do cristianismo e disputando com as religiões cristãs o direito
de possuir a verdadeira interpretação dos evangelhos e até de
que Jesus seja, ele mesmo, o Espírito da Verdade. Isso deu
oportunidade ao surgimento de movimentos paralelos ao pensamento
doutrinário legítimo. Essa mistura é, basicamente, o movimento
espírita brasileiro.
Enfim, um caos. Mas do caos pode sair a solução.
Como garantia dessa possibilidade, persiste uma linha básica
fiel ao pensamento original de Allan Kardec, que se mantém
penosamente às custas de muito denodo e decisão. Essa linha
mestra, que Krishnamurti de Carvalho Dias chamou acertadamente de
segmento padrão, é reconhecida mesmo por muitos dirigentes que
se reúnem sob a capa da religião espírita. Estes senhores
compreendem que o rumo místico e impreciso tomado pelo
movimento, estimulado pela atitude dos órgãos oficiais,
acabará por descaracterizar de vez o verdadeiro kardecismo,
termo rejeitado por representar a barreira conceitual aos desvios
cristãos e místicos perpetrados.
Esses dirigentes, contudo, permanecem indecisos, titubiantes e
dúbios, alegando que não se pode mudar as coisas de repente,
incapazes de fazer a hora, e acreditando ou fazendo-se acreditar
que um dia alguma coisa fará mudar o rumo desastroso
de alguns segmentos que se afirmam espíritas, mas são apenas
pseudo- espíritas.
Na verdade, o movimento espírita, se tomarmos como referencial o
segmento padrão kardecista, pode com razão ser chamado de
pseudo-espírita, uma vez que, na essência, está na contramão
do ideal kardecista.
Instituto Cultural Kardecista lança VII Simpósio Brasileiro
O ano de 2001 é o ano da realização do VII
Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que será realizado
de 11 a 14 de outubro, em Cajamar, no mesmo lugar dos dois
últimos simpósios. Desde já são convidados os autores e
estudiosos espíritas para prepararem seus trabalhos, dentro dos
critérios adotados pela comissão organizadora.
Até 31 de maio serão recebidos os resumos de 1(uma) página com
o título e síntese do assunto. Pode ser enviado por e-mail ou
pelo correio. Os resumos serão examinados pela comissão para
verificar sua compatibilidade com os objetivos do SBPE, sem
qualquer sentido de censura.
Já estão prontos os cartazes de propaganda do VII SBPE e podem
ser solicitados pelo e-mail kardecista@uol.com.br ou na R.
Evaristo da Veiga, 211 - CEP 11 075-661 - Santos-SP.
Krishnamurti Dias desencarna aos 70 anos
Desencarnou em Vitória-ES, aos 70 anos, no dia 2
de janeiro, o escritor carioca Krishnamurti de Carvalho Dias,
vítima de linfoma (câncer linfático). Krishna, como era
chamado na intimidade, residia em Vila Velha-ES e vinha lutando
contra a doença há alguns anos. Mesmo estando enfermo, teve
participação expressiva no XVIII Congresso da CEPA, realizado
em outubro passado, em Porto Alegre-RS. Trabalhou até o último
instante, tendo publicado por conta própria, cinco obras que,
somadas ao seu principal trabalho O Laço e o Culto, constituem
uma das mais expressivas contribuições ao entendimento e estudo
da identidade filosófica do Espiritismo.
Foi um dos pioneiros no uso de tecnologias da informação na
divulgação doutrinária. Nos anos 80 viajou por todo o País
levando consigo câmeras de super-8, vídeo, computador e filmes
por ele produzidos. Autodidata, aposentado pelo Banco do Brasil,
Krishnamurti foi muito combatido por defender idéias contrárias
à grande maioria do movimento espírita.
Autodidata, possuidor de uma memória privilegiada, Krishnamurti
deixa uma lacuna dificil de ser preenchida. Suas idéias, que
dizia não serem suas mas de Rivail, como gostava de chamar Allan
Kardec, ainda estão por serem compreendidas e debatidas pelas
novas gerações. Nascido no Rio de Janeiro, em 18 de julho de
1930, deixa quatro filhos. Em setembro, o Centro Espírita Allan
Kardec, de Santos-SP, durante a sua semana de aniversário, fará
uma homenagem à memória e ao trabalho daquele que,
possivelmente, depois de Allan Kardec, foi o pensador espírita
mais comprometido e preocupado com a preservação da identidade
do Espiritismo.