Artigo de Henrique Rodrigues - Março de 2001

Atualização do Espiritismo

Não apoio a atualização da Codificação. Os textos dela, os Evangelhos, o Alcorão, dos originais do Bramanismo, Budismo, do Taoísmo, são “imodificáveis”. Mas esses textos exigem — devem ser interpretados e a eles serem adicionados — os resultados das modernas metodologias, instrumentações e conceituações de nossos dias.
Tudo aquilo que não se atualiza, morre, e o Espiritismo não está a salvo dessa lei.. Velhas estruturas estão carcomidas pela ação do tempo e o resultado está aí: guerras de umas contra outras, ou em seus rebanhos, divisões e mais divisões, como aconteceu com o cristianismo.
Nas searas seus profitentes praticam crimes hediondos, como a falsificação de medicamentos. A prostituição moral nos poderes legislativos, judiciários e executivos. É que a realidade dos fatos, não raro, destrói até as raízes, as pregações mistico-religiosas, muito convenientes às lideranças das correntes de todas as religiões.
O Espiritismo não goza de privilégios por uma especial atenção disso que chamam de Deus. Esse Deus, como disse Nietzche, está morto. Não foi ele que o matou, foram os papas, os monges, os cardeais, os muezins, os rabinos e toda uma gama de “autoridades religiosas” que contribuíram para o Seu falecimento.
Andei pelo mundo e o monoteísmo, existente hoje, é consagrado ao Deus Dinheiro. Reina nas religiões existentes, com raríssimas exceções, a vaidade, a sede de comando e a presunção.
E a reencarnação trouxe para a seara espírita inúmeros “dirigentes”(?) que levaram à falência preciosos ensinamentos espiritualizantes. E ei-los com os seus atavismos não desejando que nada mude, para não perderem “autoridade”. Querem que o Espiritismo seja religião, quando na realidade nossa religiosidade tem que ser decorrência.
Todas as religiões ensinam o amor. Na prática elas falham e ensinam o dou amor para que me dêem , senão a recompensa aqui, mas os dos “bônus horas”, no mundo fora da matéria.
Verdades do cristianismo já eram conhecidas antes do primeiro Natal de Jesus, dentro dos costumes e etnismos das épocas.
Não querem que nada mude . Em todas as religiões existe gente honesta e desonesta, boa e má, evoluída ou atrasada, e dentro do Espiritismo, que não é basicamente uma religião, o mesmo se dá.
A humanidade é dividida por uma linha que passa por todas as nacionalidades, raças, religiões, filosofias, ciências, que divide justos ou tendentes à justiça; injustos e inclinados à injustiça. Não poupa ninguém e nenhuma, inclusive a seara espírita.
Nós temos um metabolismo orgânico e um psicológico. Muitos possuem uma mentalidade de curral, ou seja, limitada e se insurgem contra qualquer tentativa de ampliar o espaço. É o drama do anabolismo e o catabolismo psíquico. Que escolham onde ficar. Em Belo Horizonte, uma instituição espírita teve uma presidência de mais de 35 anos. Gente honesta, mas radicalmente conservadora. Nada mudou nesse tempo. E pelo que se vê, nada mudará. Não tomaram conhecimento de que, no tempo de Kardec, não havia carros, nem telefones e que hoje temos o homem que andou na Lua, comandou daqui um carrinho em Marte, distante milhões de quilômetros, avião, bomba atômica, transplantes, computadores que fazem maravilhas, vacinas, medicações que prolongam a vida do encarnado, rádio, televisão, descobertas que modificaram o pensamento humano. E a essa ampliação da capacidade intelectiva, os ensinamentos “psíquicos” devem acompanhar, para que haja uma modificação no comportamento.
Não se trata de negar Kardec, que em sua época foi um “novidadeiro”, expressão de uma conservadora. Ele usou metodologia, instrumentos e linguagem da época e por isso foi combatido. Foi um legítimo atualizador.
Não temos hoje Florence Cook, nem Eusápia Paldino. Não se usa mais pranchetas e psicogonias diretas. Transporte de peças concretas através das paredes em recintos fechados. Mas temos a TCI (transcomunicação instrumental), o uso da eletrônica, as fotografias das auras e das partes amputadas com a Câmara Kirlian, a TVP (terapia de vivências passadas), que agora, como reserva de mercado, querem restringir a médicos e psicólogos (lucro). Por que outros não podem fazer, se essa ciência não é ensinada em cursos médicos ou psicológicos? Estarão todos, médicos ou não, em exercício ilegal da profissão? Todas as atividades estão sujeitas ao charlatanismo. Isso atinge todas as profissões e ideologias.
Não se trata de fazer Universidades Espíritas, mas universalizar os núcleos espíritas. O Espiritismo não é universalista? Que universalismo é esse onde só é ensinado em seus meios o cristianismo? O espírita precisa conhecer os livros de todas as grandes correntes religiosas de nossa humanidade.
Os dirigentes espíritas conservadores têm horror à política. Mas já tivemos grandes espíritas políticos e destaco dois: Freitas Nobre e Campos Vergal, que honraram seus mandatos e nossa Doutrina.
Para muitos no fabulosos EE.UU. a influência religiosa está agindo. Católicos e protestantes, em dois Estados americanos, conseguiram a proibição nas universidades do ensino evolucionista , e impõem o criacionista , ou seja “o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, que no nascimento lhe embute uma alma”. Palmas para eles porque merecem!
E como crescimento das bancadas católico-protestante, já querem impor o ensino religioso nas escolas, com remuneração econômica para esses “professores”. Mas tanto os EE.UU. como o Brasil países de mesclas racial e religiosa vão permitir o ensinamento espírita? Duvido... E as etnias budistas, muçulmanas, umbandistas, judaicas e suas derivações? Como ficarão?
Os textos da Codificação não podem ser modificados, mas suas limitações devem ser atualizadas. O capítulo da Uronografia, em A Gênese, atribuído a Galileu e recebido “mediunicamente” por Flammarion, teve uma adição, feita pela F.E.B., referente aos satélites de Marte. Quanto às condições da Lua e sua configuração geofísica e a possibilidade de “selênicos”, me levou a perguntar ao Chico (Xavier), com quem tive uma convivência quase diária por 17 anos, em Pedro Leopoldo, a razão dos equívocos.... E ele me assegurou que Flammarion foi a reencarnação de Galileu. Animismo não é mediunidade. Diante disso “revogam-se as disposições em contrário”. Que contestem o Chico , não a mim, que nada tenho a ver com isso.

Henrique Rodrigues é escritor e psicobiofísico. Reside em Belo Horizonte-MG.