Artigo de Jaci Régis - Maio de 2001

Acidente no Centro

Quando chegamos o portão estava fechado. Estranhamos porque nos dias de reunião pública ele fica sempre aberto. Veio um diretor do centro, abriu e explicou que estivera ali uma pessoa alterada, obsediada, disse ele, que provocara um grande tumulto e fora retirada para fora. Para garantir o sossego, tinham fechado o portão.
Entramos e a palestra decorreu normalmente.
À saída, ficamos, várias pessoas, no pátio de entrada conversando, enquanto outros ainda se encontravam no salão, melhor dizendo na porta do salão.
De repente, entra pelo portão apressado, agitado, um homem, relativamente alto e magro. Dirige-se para o salão. Ao vê-lo, dois dirigentes que estavam conversando na porta, imediatamente o agarram pelos pulsos e o arrastaram para fora.
O centro tem um muro não totalmente fechado. Há um miolo criando uma grade de colunetas de concreto, de modo que há espaço que deixa ver o exterior e vice versa.
Ainda preso pelos pulos ou pelo menos um dos pulsos, o homem vociferava em altos brados, com gestos e ameaças contra os que o arrastaram que, todavia, mantinham-se calmos e não respondendo às provocações.
Eu estava, com um amigo, justamente no lado de dentro do muro, contíguo ao local onde o homem bradava.
Estava de costa, ouvindo a altercação.
De repetente, comecei a sentir-me incomodado com o acontecimento.
Cresceu dentro de mim uma certa indignação.
Então, virei-me e coloquei meu rosto entre duas colunetas, de modo que olhava perfeitamente para o homem e vi que ele estava corretamente vestido, limpo. Mas evidentemente exaltado.
Então, comecei a falar, firme e alto, gritando para o homem: - olhe para mim....
Repeti várias vezes “olhe para mim...” .
A princípio ele pareceu ignorar.
Mas, depois de várias insistências, tomou conhecimento de minha presença.
Respondeu-me, primeiramente “não olho...”.
Insisti: “olhe para mim...”
E ele “não olho, que pensa que é, pensa que é Deus?”
Continuei insistindo até que momento em que ele fixou seu olhar no meu olhar
Fixando-lhe o olhar, mantive firme minha frase “olhe para mim.... cale a boca...”
Passados alguns segundos, em que pareceu hesitar, houve uma transformação radical no homem.
Tornou-se calmo, perdeu toda a agitação, calou-se .
Surpreendentemente aproximou-se de mim, separados pela parede do muro, mas visíveis pelo espaço entre a colunetas.
Com voz calma, para minha surpresa, chamou-me de “dr. Manuel” e agradeceu o que este fizera por ele, tirando-o da prisão.... Depois, beijou minha mão, melhor dizendo, as pontas de meus dedos que era o que estava à mostra no lado externo do muro.
Desde aí, tornou-se brando, pediu dinheiro para pagar seu barraco e depois foi embora.
Narro esse episódio refletindo no que aconteceu.
Não sabemos o que se passou na alma daquele homem. Aparentemente não estava alcoolizado. Estaria num surto alucinatório, delirante ou obsessivo?
Estivera no centro antes das 8 horas. Criara uma situação constrangedora, obrigando os dirigentes e expulsá-lo, porque sua agressividade era evidente e todos temeram pela segurança dos que já estavam no salão.
Afastara-se e mais ou menos uma hora depois voltara com grande agitação, ameaçando e forçando a entrada atribuladamente, quando o salão estava praticamente vazio, terminada que fora a palestra a cerca de 15 minutos.
Vinha tomar satisfação.
Entretanto ele jamais tinha antes entrado em contato com o centro. Aparecera de repente, sem mais aquela. Um fato raro, pois as portas da entidade estão sempre abertas nos dias de reunião pública e não se tem notícias de casos semelhantes, ao longo de 50 anos.
Que teria feito ele mudar de comportamento tão repentinamente?
Seria o fato de ter ouvido uma voz autoritária, que de qualquer forma fez com que abandonasse a atitude agressiva?
Teria um obsessor se afastado e ele voltado `à sua “normalidade”?
Enfim, qual causa desse revertério?
Dias depois alguns membros do centro que não estavam presentes, encontrando-me, disseram “então você exorcizou o homem...
“Pensei no ocorrido e vejo que as forças mentais e as ligações entre as mentes é processo difícil de analisar.
Um Espírito agressivo e perturbador poderia tê-lo obsidiado, entrando em conluio com seus pensamentos. Não se sabe porque ele procurou o centro. Teria sido ele mesmo um ator que encenou tudo aquilo?
Seria apenas um débil mental, com momentos de agressividade e imediatamente passivo?
Não sei responder. Também não sei se os dirigentes do centro consultaram o instrutor espiritual da entidade sobre o assunto, que fica em suspenso.