Artigo de Oswaldo Iório - Ribeirão Preto - Junho de 2000

Seitas e Religiões

Há tempos atrás o programa Globo Repórter, exibiu reportagem sobre seitas religiosas que proliferam no Brasil. Grande parte delas, por utilizarem de práticas mediúnicas em seus trabalhos, indevidamente se denominam "espíritas" (sabemos que esta palavra foi criada por Allan Kardec quando da divulgação da Doutrina, especificamente para denominar os seus adeptos e seguidores.) Algumas misturam rituais de diversas religiões; possuem altares com imagens de santos, Jesus, juntamente com Buda, etc. ; fazem benzimentos; batem palas; cantam e seus fiéis ficam tomados por espíritos.

Pelo o que a reportagem mostrou, constata-se como é fácil a qualquer aventureiro que saiba divulgar "milagres" possua um bom vocabulário para falar sobre a Bíblia, assuntos espirituais ou ocultos e bom ator para encenar atitudes e gestos considerados sagrados, conseguir "arrebanhar" centenas de fiéis que, fanatizados e cego, contribuem com seus poucos recursos para enriquecer seus dirigentes.

Exibiu uma seita na qual seu chefe, de barba crescida, descalço, vestido com uma túnica, coroa de espinhos na cabeça, sentando num trono tendo ao lado a Arca do Tesouro para seus fiéis depositarem dinheiro, afirma ser Jesus Cristo que voltou. Crentes da mesma, entrevistados, declararam ter encontrado paz e ter certeza , através da lógica, de que ele é, efetivamente, Jesus.

Tecendo comentários, a reportagem focalizou várias outras seitas e crenças, das quais selecionei as seguintes: Sociedade de Pesquisas Espirituais, com rituais à luz de velas e passes; Mônica Dubeux, que se intitula bruxa e executa cerimônias com fogo; o também bruxo Wagner Pericó, que queima rolos; Sonolita, discípula de Sayadeg, que possui altar com figuras grotescas; Meninos de Deus, seita acusada de prática de sexo entre crianças, etc. Entrevistando crentes das mesmas, todos se decolaram beneficiados.

Entre as focalizadas, destaco a denominada Vale do amanhecer, localizada na cidade satélite de Planaltina, no Distrito Federal, distante aproximadamente 36 quilômetros do centro de Brasília (que o autor, quando lá residiu teve oportunidade de visitar várias vezes fundada por "Tia Neiva" ex-caminheira já falecida, que conta com mais de 50 000 seguidores e ocupa uma área de antiga fazendo, de grandes proporções.

Seita assistida e orientada por Espíritos que viveram nas antigas civilizações Asteca e Maia, remanescentes dos egípcios. Esse local possui construções com arquiteturas típicas egípcias; lago em forma de estrela em cujas pontas os sacerdotes, ricamente paramentados, efetuam cerimônias; pirâmides som fontes magnetizadas em seu interior; quedas de água também magnetizadas; estátuas enormes representando sacerdotes astecas; emblemas; paramentos suntuosos; cerimônias com grande misticismo; procissões e ritos inspirados pelos Espíritos Guias, que copiam os do antigo Egito.

O magnetismo nesse local é tão acentuado que o visitante, ao adentrar o seu portão, é tomado por uma estranha e suave sensação de paz, tranqüilidade, doçura, bem-estar, felicidade, que o envolve tornando-o leve e parecendo estar flutuando. O local é tão aprazível e benéfico que já conta com mais de mil moradores, pessoas que, ao conhece-lo e sentir a sua placidez e tranqüilidade, lá fixam suas residências. O local é bastante freqüentado por políticos, membros das Câmaras Legislativas, Judiciário, Executivo e Presidentes da República.

O programa comentou ser o Brasil o maior país católico do mundo, mas está perdendo terreno para os evangélicos, que são as seitas que mais crescem.

Referiu-se, também, ao fanatismo religioso, cuja cegueira leva seus adeptos a cometerem suicídios coletivos, como os sucedidos na Guiana e nos EE.UU.

A reportagem nada comentou sobre o verdadeiro Espiritismo que, nesta ocasiões, devido à existência de velada discriminação, fica impedido de divulgar o que pega clara e convincente filosofia, isenta de dogmatismo, altares com imagens, rituais, paramentos, velas, demônios, etc. e as sublimes verdade de seu Evangelho de amor e perdão.

Naquela época tomei conhecimento, através do Caderno de Economia do Jornal do Comércio, do Recife (PE) o artigo em que o jornalista Gustavo Maia Gomes comenta a matéria da Folha de São Paulo, , com o título "Igrejas travam guerra por TV" escrevendo, a certa altura: "A grande expansão das igrejas evangélicas é um fenômeno no mundo dos negócios. Destaca que a Igreja Universal que se transformou na nossa única empresa verdadeiramente multinacional, passando a exportar uma parte da produção religiosa brasileira. "Bons empresários, descobriram que o investimento para fundar uma igreja é pequeno e o lucro grande. Basta ter capacidade para convencer seus fiéis que por um certo preço Deus estará com ele e o diabo será afastado."

O exposto pelo citado jornalista confirma minhas palavras iniciais sobre a facilidade encontrada por qualquer aventureiro para "faturar, explorando o fanatismo e a cegueira de milhares de pessoas que, ludibriadas na sua boa fé e crentes que ficarão livres do demônio e ao lado de Jesus e de Deus, sacrificam seus poucos recursos enchendo as "Arcas do Tesouro"desses "empresários", chegando a adquirir um terreno no céu para lá morar após a morte.

Ainda bem que Deus, com sua bondade e amor, perdoa e releva a santa ingenuidade desses pobres, enganados e inocentes irmãos.

Oswaldo Iório é advogado em Ribeirão Preto-SP