Da Redação - Dezembro de 2000

Fato & Comentário

A Eutanásia na Holanda

País interessante a Holanda. As mais atrevidas e “avançadas” idéias da sociedade atual são ali, primeiramente, aprovadas pelo legislativo.
Agora foi a aprovação da eutanásia, dentro de regras bastante claras.
As igrejas e o Espiritismo, inclusive, são contra a eutanásia.
O argumento é que a vida não pertence à pessoa, mas a Deus e só este tem o direito de tirá-la.
A questão é polêmica e defendida como um direito e como manifestação do livre- arbítrio.
A vida terrena é preciosa. Mas há variações no processo que precisam ser revistas pelos cânones religiosos. O suicídio é um contra-senso, quando pretende livrar a pessoa de problemas.
No caso da eutanásia, aprovado na Holanda, o paciente precisa estar consciente e desejar a morte, aceita por médicos que emitirão parecer sobre a irreversabilidade da doença.
Preservar a vida é uma ação natural, dentro da lei de conservação.
A dor e a visão materialista dão suporte ao desejo de evitar o sofrimento inútil. As teses espíritas, que acreditam que sofrer mais um minuto, um dia ou um mês é importante para purificar a alma, são argumentos usados para vetar a eutanásia.
Apesar disso, e da pressão religiosa, a chamada “morte misericordiosa” vem cada vez mais ganhando adeptos.

Expo-Espírita já faz parte do Calendário de Santos

A EXPOESPÍRITA2000 atraiu um público significativo nos quatro dias em que se realizou, nas dependências do SESC-Santos, com boa repercussão na imprensa local e um público interessado em todas os dias do evento.
O Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e os Centros Espíritas Allan Kardec, Maria Emília da Motta Ferreira, Missionários da Luz, 30 de Julho, Fraternidade Espírita, Ângelo Prado e Lar Veneranda estiveram ativamente empenhados no sucesso da EXPOESPÍRITA2000 que já faz parte do calendário de eventos da cidade.
Palestras e Seminário
No dia 23, ãs 20 horas, inaugurando o evento, o psicólogo Jaci Regis desenvolveu o tema A Lei de Causa e Efeito, abordado de forma atual e fugindo dos estereótipos das abordagens que vêem nessa lei apenas um aspecto punitivo e confundido com a lei de talião. A repercussão do público foi demonstrada no número de questões levantadas e respondidas pelo orador.
No dia 24, também às 20 horas, o seminário sobre A Busca de uma Identidade Espírita , reuniu Ademar Arthur Chioro dos Reis, médico e professor universitário que, a partir das significações vocabulares da palavra “identidade” construiu oportunas correlações com a identidade da Doutrina. Em seguida o engenheiro Reinaldo di Lucia tratou do tema identidade dentro de especificações paradigmáticas e epistemológica. Finalmente, Roberto Luiz Rufo e Silva, filósofo e tecnológo, preferiu enfocar a identidade da Doutrina a partir de trechos da Revista Espírita. Após a palestra, houve muitas perguntas, respondidas pelos oradores.
A partir do dia 25 a EXPOESPÍRITA2000 passou a funcionar no período vespertino. Nesse dia, às 15 horas, o Coral CEAK Canta, apresentou vários números e em seguida, às 16 horas, Sandra Regis discutiu o tema A Mulher Atual na Dimensão Espírita e expos reflexões que mobilizaram a platéia, com muitas perguntas e troca de idéias.
Finalizando a série de palestras, no dia 26, às 16 horas, o publicitário e jornalista Wilson Garcia fez intrigante palestra sobre o tema Os Desafios do Espírito numa Sociedade de Consumo, com muita participação dos presentes, precedido da apresentação do Coral Infantil-Petrobrás, de Cubatão, cidade vizinha a Santos.
A venda de livros foi significativa. Foram exposto quadros de pintores espíritas. Além do espaço para confraternização, bate-papo, foi oferecido a todos, gratuitamente, cafezinho, da marca Café Brasileiro, gentilmente cedido.

Cartas Abertas

Estranheza

Li, com certeza estranheza, no nº 158, setembro de 2000, do Abertura, o trabalho intitulado Opções Temáticas na Obra de Hermínio C. Miranda, de autoria de Wilson Garcia.
Pretendo expressar e justificar minha estranheza. Logo a princípio o autor equipara Hermínio C. Miranda a Ernesto Bozzano, salientando a capacidade de ambos para a pesquisa. Mais adiante, quase no fim do trabalho, quando cita “...alguns aspectos curiosos em Hermínio Miranda”, talvez para justificar a comparação diz “Tem-se a impressão de que escreve com o ‘Aurélio’ e a ‘Britânica’ ao lado, a eles recorrendo constantemente.”.. Sinceramente não me parece.
Um único ponto citado no trabalho em questão, leva-me a duvidar de tanto esmero no trabalho de pesquisa, atribuído pelo autor ao escritor Hermínio C. Miranda: a suposição de que Martinho Lutero tenha sido a reencarnação do Apóstolo Paulo.
Façamos uma comparação entre as duas personalidades.
Na primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 13, versículos 1 e 2, do Novo Testamento, diz o apóstolo dos Gentios: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como sino que tine. E ainda que tivesse o Dom da profecia, e conhecesse todos mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes e não tivesse caridade, nada seria.” O grifo é meu.
Qual foi o pensamento basilar da doutrina fundada por Lutero? Simplesmente este: a salvação pode ser obtida somente pela fé. Vai aí uma grande contradição filosófica.
Este, entretanto, não é o aspecto mais grave na suposição de que Lutero tenha sido a reencarnação de Paulo. Nesta suposição está latente a negação do caráter evolutivo do Espírito, postulado importantíssimo da Doutrina Espírita.
Não pretendo aqui endeusar o Apóstolo Paulo ou diminuir o mérito do fundador do Protestantismo. Absolutamente não. Estou ciente das limitações do primeiro e a importância que teve o segundo na História. Mesmo assim, entretanto, admitir tal coisa seria admitir que o Espírito involui.
Façamos uma pequena incursão pela História. Depois de ter traduzido a Bíblia para o alemão, Lutero teve suas idéias mais ou menos consagradas na Alemanha e fora dela. O fato de o texto bíblico não ser mais privilégio dos clérigos da Igreja Romana, abriu novos horizontes para o povo.
As mensagens de fraternidade, justiça e igualdade entre os povos, contidas no Evangelho, impressionaram de tal modo as mentes das classes menos favorecidas. A ponto de provocar a chamada Revolta dos Camponeses (1524-25). Tratava-se de uma insurreição plenamente justa. De um povo humilde, sofrido e espoliado por senhores feudais, cruéis e inescrupulosos, que haviam aderido à Reforma apenas por questões políticas e para poder abocanhar os bens dos mosteiros e dos bispos.
Lutero não podia conceber que se discutisse a autoridade dos príncipes e dos senhores feudais, pois considerava-os mantenedores e protetores da nova doutrina e não teve o menor escrúpulo em exortar aqueles homens, reprimir o movimento e, dessa forma, a Alemanha foi sacudida por sangrentas lutas em que milhares de pessoas perderam a vida. Com essa tomada de posição, Lutero assemelhou-se, e muito, à Cúria Romana que ele tanto combatera. O Apóstolo Paulo, cerca de 1500 anos antes, não teria feito isso. Entenda-se, depois de ter-se convertido cristão.
Para finalizar, esclareço que considero importante o estudo da reencarnação, mas essa preocupação exagerada de procurar saber quem foi quem em encanações pregressas é um exercício plenamente inconseqüente, não lança a mínima luz sobre coisa alguma. Mas pode lançar, isso sim, muita confusão.
E, no movimento espírita brasileiro, as há de sobra. Tal exercício já deveria estar circunscrito ao Primeiro Período do Espiritismo, que Kardec intitulou “da curiosidade”.
P.S. –Não estou convencido da participação de entidades desencarnadas na Síndrome da Personalidade Múltipla. Pelo menos não como causa. Como conseqüência, talvez. Gostaria de conhecer a opinião de Jaci Regis, a esse respeito.
Nassif Cury – São Paulo-SP

Padres e Pastores

O intrépido divulgador Alamar Regis exprime, na Internet, sua euforia pela presença de padres e pastores no 1º Encoesp, que a USE promoverá de 19 a 21 de janeiro do próximo ano.
Nós, aqui em Santos, há cerca de 20 anos atrás, também tivemos essa experiência. O presidente do Centro Espírita Allan Kardec, Egydio Regis, falou na Igreja dos Passos e o padre Waldemar Martins Vale no Centro. Foi muito interessante, fraterno, mas.... esses eventos servem apenas para uma convivência entre diferenças. Porém. o Espiritismo não precisa do beneplácito da Igreja, como parece fascinar alguns. Porque, na verdade, os enfoques entre o catolicismo e o protestantismo, isto é, do esquema de crenças do cristianismo, é frontalmente contrário ao Espiritismo.
Geralmente quando existe essa troca de gentilezas, os discursos são genéricos, paliativos. Um espírita não falará numa igreja sobre a reencarnação, a comunicação dos Espíritos, a lei da evolução e assim por diante. O padre omitirá a opinião de que a Igreja é a única representante de Deus na Terra e que a reencarnação é invenção, a comunicação com os mortos é sacrilégio, coisa do diabo e assim por diante.
A presença de um espírita numa igreja é mera curiosidade. Mas a presença de um padre pode influenciar o frágil sentimento espírita desenvolvido no movimento, que como sabemos, é apenas trabalhado no campo emotivo e místico, com ausência de espírito crítico e do pensamento de Allan Kardec.
Seria ridículo supor um espírito de intolerância. Mas é preciso manter a tentativa de preservação da identidade da filosofia espírita. Essa mistura contribui para tornar ainda mais emoliente e adaptativo o comportamento, muito em voga, que pretende omitir as diferenças gritantes entre o Espiritismo e o cristianismo, porque “o que importa é ser bom”. em nome da fraternidade ou coisa que o valha. Esse tipo de comportamento elimina o discurso revolucionário do Espiritismo. E tanto pior na medida em que o movimento se enquadrar no esquema do cristianismo.
Hoje a Igreja não perde mais tempo combatendo o Espiritismo. Mas não por mérito nosso. Ela deixou de fazê-lo quando percebeu que o movimento espírita cessou de oferecer perigo, se evangelizavou, se tornou uma religião que quer ser aceita pelo cristianismo. Não faz nenhuma sombra para a Igreja. Na verdade, o movimento espírita é até quase parceiro das igrejas cristãs. Onde entra aí o Espiritismo?

A Profanação do Sagrado

Aborto, divórcio, eutanásia:o apocalipse. Aliás, o apocalipse sempre esteve na demagogia de todas as religiões e na boca de todas as cassandras, sempre prontas a denunciar que o fim está próximo, que não há esperança. Essas atitudes seriam, adverte-se, fruto do avanço do materialismo no mundo. É verdade. Mas é preciso analisar o que seja esse “materialismo”.
No Manifesto Comunista (1848) Marx afirma “tudo o que sagrado é profanado, tudo o que é sólido se desmancha no ar...” representando a ruptura com o sagrado, com a mentalidade religiosa e espiritualista que dominava a sociedade ocidental no século 19, em processo de decadência..
De outro lado, o positivismo cartesiano impunha uma análise mecanicista da vida e referia-se, tanto quanto o marxismo, ao ser inserido no coletivo e não a sua singularidade.
Depois de 1945 a sociedade ocidental entrou efetivamente em conflito com os valores cristãos, depois da carnificina e começou a evidenciar o desejo de cada pessoa ser respeitada, considerada, ser ela mesma.
Essa busca da singularidade representa o exercício pleno do livre-arbítrio, as pessoas querem individualizar-se, sentir seus sentimentos, comandar sua vida. Mas pode também significar o desespero diante do nada.. O homem é um ser para a morte, diz a filosofia existencialista: “os outros são o inferno”...
Cresceu a ânsia de afirmação da liberdade e do valor do ser humano, sempre colocado como refém da vida, da divindade, do diabo e das circunstâncias.
Essa posição é atávica e invade tanto os pregões religiosos, inclusive do Espiritismo religioso, como até das ciências. A genética parece que caminha para afirmar que o ser humano é “vítima” das combinações genéticas e os seus males decorrem da combinações infelizes ou desvios dos genes.
A psicanálise, a psicologia embora com visões “materialistas” procuram ressaltar a singularidade do ser, sua especificidade mental e moral, como ser único É claro que não se pode opor ao coletivismo marxista e cartesiano o egocentrismo, o egoísmo. Mas uma posição de equilíbrio entre o ser em si mesmo e o ser coletivo que todos somos, sem perder de vista a essencialidade pessoal.
Onde fica o ser humano, o que é esse ser perdido na vida, sem comandar seu destino, sujeito à doença e à morte. Muitas vezes sem desejar viver ou viver onde vive e morrer quando quer viver?
Essa tentativa de singularidade do ser assusta as igrejas que perderam o poder de ditar regras e de falar em nome de Deus e ter legitimidade para isso. A liberdade é um bem essencial, mas tem seus problemas, porque ninguém fere a Lei Natural sem conseqüências para o próprio equilíbrio.
A tendência é duvidar das ordenações e ouvir menos esses porta-vozes de Deus. O resultado é um caminho sinuoso, cheio de perigos. Mas inevitável e sem volta.
A teimosia das crenças em permanecer estáticas, permitiu avanços do niilismo. Todavia, como sempre, a humanidade encontrará formas de recuperar o equilíbrio rompido.
Viver na Terra é uma aventura, um risco, mas é a forma insuperável para encontrar a si mesmo.
Derrotar o Materialismo
O Livro dos Espíritos assinala que o Espiritismo contribuiria para o progresso humano derrotando o materialismo, ali identificado como raiz do egoísmo e do orgulho, as chagas maiores do ser humano.
Entretanto, o Espiritismo tem fracassado porque pretendeu derrotar o materialismo com as mesma armas do catolicismo, do protestantismo, ou seja com o pensamento cristão, edificado pela Igreja.
Assumindo a mesma postura de condenação do ser humano, exigindo dele um comportamento sublimado, a doutrina espírita real, emparelhou-se, essencialmente, com a doutrina cristã – aliás quer ser, de qualquer forma cristã - que é, por natureza, absolutamente contrária aos postulados espíritas.
O erro foi confundir Jesus de Nazaré com o Jesus Cristo das Igrejas . A nuance é muito clara. Não houve talento para cumprir o papel de consolador prometido, de forma nova, diferente das religiões. Absorvendo o apelo salvacionista da Igreja, o Espiritismo real, no Brasil pelo menos, pretende amenizar o sofrimento, mas legitimando-o. pela transformação da reencarnação, que é instrumento da lei da evolução, em lei de talião, punição, expiação e purificação.
Com isso, aderiu à posição cristã de que o ser humano é pecador por natureza, porque é culpado de não seguir o Cristo e ai por diante.
Deixou-se de lado a reestruturação mental das pessoas único caminho de renovação positiva do ser espiritual.
Como em todas as religiões e sistemas, o Espiritismo real, cristão, religioso, exige do Espírito reencarnado, o que se exigiria de um cego :que veja, enxergue, desconsiderando o perfil evolutivo percorrido por cada um..
Ele deve ser bom, fraterno, amigo, caridoso. E isso, afirma-se, depende única e exclusivamente de sua vontade. Se querer, pode. Se amar tudo se resolve. Eis aí duas vertentes que cada pessoa, diz-se, pode perfeitamente executar: ter vontade firme e amar sem fronteiras.
Como a maioria não consegue essa proeza, o resultado é dor, castigo, punição.
Chega-se à triste conclusão que está tudo errado,. Que Deus errou.
Afinal, desde a criação, segundo a Bíblia, nada tem dado certo.
Adão não devia conhecer o sexo quando viu Eva. Conheceu e foi expulso.
Caim matou Abel.
Deus, desesperado inundou o mundo e salvou Noé. Mas o resultado foi um furo n’água. Mandou seu filho Unigênito para salvar o ser humano, e ele foi crucificado.
A eterna dicotomia entre o bem e o mal, continua nas relações humanas, sociais e políticas.
Entretanto, curiosamente, a humanidade caminha errando e acertando, mas descobrindo novas formas de vivência, sempre renovadas, insatisfatórias. Guerras, revoluções, líderes carismáticos e sem carisma, compõem a historia do mundo, sempre ameaçado pelos profetas de estar à beira do abismo. E talvez esteja sempre mesmo `beira do abismo. Mas consegue reverter por algum tempo o perigo, par enfrenta-lo depois..
Se o tempo não passasse soberano, a insanidade seria total. Como Erasmo. no seu Elogio à Loucura, o Espiritismo precisava desenvolver a loucura da busca, com a criação de parâmetros contra-cultura, na contra-mão da correnteza cristã, oferecendo uma alternativa compreensiva e flexível para o ser humano.. Fez ao contrário, Acomodou-se, absorveu e luta pela reforma íntima, com o mesmo fervor dos cristão pela salvação.
Não fosse as profanações dos esquemas religiosos, as confrontações, a superação da ruína e a restauração, permaneceria a Terra na idade da pedra lascada e pereceria.
Todavia, entender a loucura do progresso e da mudança às vezes leva à loucura patológica.
Caminhos da Libertação
O ser humano é construção progressiva, exaustiva, repetitiva.
Agora a sociedade do fim do século 20 e entrando no século 21, tenta a loucura da afirmação do ser humano, independente de Deus.
Na verdade esse caminho primeiro leva à libertação de Deus das amarras das religiões.
Elas se apossaram Dele e roubaram sua voz e falaram por ele.
Deus quer, Deus não quer, Deus mata, castiga, pune. Deus não sorri, Deus não perdoa, Deus é arbitrário, fulminante. O ser humano deve ajoelhar-se, humilhar-se, diante do Poder Divino, que fulmina, separa, destrói.
Não temos certeza alguma de que esses porta-vozes falam. Não possuem legitimidade e a vida tem desmentido a cada passo, suas vozes falsas, solenes e comprometidas com sistemas e poder.
Certamente fizeram e fazem seu papel de controladores dos impulsos humanos, pois jamais se viveria em sociedade não fossem leis, costumes e tradições.
Mas quando essas leis, tradições e costumes cerceiam, inibem, maltratam o ser este, pela própria natureza que lhes foi outorgada pelo Criador, reage.
O materialismo, sob uma certa forma, deu ao ser humano oportunidade de conhecer Deus de uma outra forma, mesmo negando-o .
Com a profanação do divino, que o materialismo histórico realizou, foi possível derrubar a parede erguida entre o sagrado e o profano.
Não existe essa dicotomia. Foi estratagema dos sacerdotes para manter o poder sobre as massas. Inventaram o sagrado e o profano, para minimizar o ser humano. O profano é humano, detestável, impuro
O materialismo histórico é uma forma de pensamento, uma visão do homem e do mundo que elabora uma lei social humanizada, apoiada na precariedade d vida terrena, mas valorizando-a como única e final.
Pode conduzir ao niilismo, mas também ao humanismo.
Além desse materialismo que se diz científico, determinista e politicamente correto, existe uma “materialismo” cotidiano, que invade a mente e comanda o procedimento da sociedade em geral. Isto é, confrontando-se com os fundamentos espiritualistas que pretendem reduzir a vida terrena a uma passagem breve para o eterno, a maioria entrega-se ao cotidiano com o fervor materialista.
A maioria é materialista na maior parte do tempo e espiritualista nos momentos difíceis, nos fins da noite ou da semana.
Não fora a profanação dos critérios da cultura cristã, estabelecidos pela Igreja, a ciência nem existiria propriamente, nem a crítica e a busca da verdade seriam possíveis.
Não fora a profanação materialista e o ser humano continuaria sendo apascentado para sofrer, humilhar-se, aceitar o poder e o arbítrio sobre ele, pela minoria ilustrada, sem perceber seu próprio valor.
Sob a proteção da Igreja a desigualdade social estabeleceu-se como critério divino.
Vias Indiretas
Cremos firmemente na presença divina na vida.
Certamente fora do esquema das igrejas e Espiritismo religioso, que é um caudal delas. Por isso, vemos nas profanações dos códigos tradicionais uma forma indireta do ser humano posicionar-se, com o tempo, dentro de uma visão larga, ampla, conseqüente, moralmente equilibrada.
O caminho é árduo porque, pela primeira vez, as pessoas terão que escolher. Por ora, a grande maioria se recusa a fazê-lo. Prefere a “palavra de Deus” proferida pelo papa, pelos sacerdotes, pelos pastores, pelos médiuns e seus Espíritos que afirmam possuir a chave do céu e o caminho da felicidade. Querem que esses porta-vozes divinos lhes indiquem o caminho, consigam empregos, cura, sorte, bem-estar.
Mas esse castelo feito de areia desmorona conforme a realidade espiritual se apresenta exigindo decisões.
A sociedade ocidental, cristã é injusta. As outras sociedades religiosas do mundo permanecem confusas e estáticas, medrosas da inevitável profanação aos seus símbolos e ordenações. Por ora castram, usam da violência, do fanatismo para manter o poder. Mas o mundo globalizado cria brechas nessas sociedades fechadas.
A aceitação do aborto, da eutanásia, do divórcio, são episódios da profanação dos códigos divinos estabelecidos pelas igrejas. Possuem claros desvios e resultados satisfatórios, necessários.
A verdade é que todos os seres humanos desconfiam da vida futura e acreditam, temendo, apenas no poder discricionário e arbitrário de Deus, desse Deus que foi construído pelas igrejas para manter o domínio. A força interior que pede a imortalidade ainda é frágil, porque o “materialismo” cotidiano, é urgente para satisfazer a angústia diante da impotência desse ser que vive sem saber porque, que enfrenta obstáculos e morrerá certamente. Porque esse é o quadro real.
O Espiritismo poderia tê-lo mudado. Não sabemos se conseguirá fazê-lo, como devia. Está demasiadamente contaminado pela cultura religiosa do cristianismo que, como se sabe, perdeu-se e se tornou incapaz de orientar o ser humano.
Pena que as multidões que procuram o Espiritismo o fazem pelo sobrenatural que ele combate, pelo milagre que ele nega. Fixando-se no assistencialismo e na salvação, o Espiritismo pode perder o trem da história.
Mas o homem sobreviverá e saberá encontrar o caminho.
Deus existe.

O Espiritismo Consolidará...

... sua estrutura filosófica e científica no século 21

Essa é a opinião de 57,14% dos que responderam à pesquisa realizada, via Internet, pelo Abertura. Também 23,81 acreditam que ele crescerá muito e aceito como alternativa para a humanidade. 9,58% afirmam que a ciência aceitará a imortalidade e reconhecerá o Espiritismo, enquanto 4,76% pensa que a ciência tentará desmoraliza-lo e 4,76% dizem que crescerá no mundo inteiro e será aceito como religião cristã.
No século 20 os entrevistados afirmam que o Espiritismo continua bastante desconhecido no mundo (52,38%) e praticamente não avançou (38,11%). A esmagadora maioria (71,48%) conclui que o Espiritismo foi contaminado por idéias não compatíveis com Kardec.
A influência do médium Francisco Cândido Xavier dividiu as opiniões, 57,14% acreditam que ele ajudou a consolidar o Espiritismo no Brasil e no mundo e aumentar o conteúdo doutrinário. Outros 53,38% disseram que ele ajudou a criar e consolidar a religião espírita.
A crítica dos resultados dos congressos promovidos, a partir de 1986, pelas Federações Estaduais e pela FEB, é bastante ácida. Para 47,62%, eles serviram para consolidar o domínio da FEB e 38,11% acham que não trouxeram contribuição significativa para a Doutrina. Outros 14,28%, consideram que os congressos foram excelentes processos de confraternização e apenas 9,52% afirmam que contribuíram para melhorar a Doutrina de modo geral.
No século 21, 76,19% crêem que os problemas do meio ambiente melhorarão, com reação positiva para encontrar soluções. 23,8%, ao contrário, vêem as coisas piorarem e o aumento dos conflitos.
Sobre a família, o próximo século será favorável para 80,96% dos entrevistados. Enquanto 14,28% crêem que aumentarão os conflitos.
A violência vai piorar para 42,86%, enquanto 57,13% pensa que diminuirá e que serão encontradas soluções para ela.
Para 57,13%, a miséria diminuirá no próximo século, mas piorará para 49,81%.
Já o Brasil, será melhor no século 21 para 85,71% ,enquanto apenas 19,04% crê que vai piorar.