Da Redação - Dezembro de 2000
Fato & Comentário
A Eutanásia na Holanda
País
interessante a Holanda. As mais atrevidas e avançadas
idéias da sociedade atual são ali, primeiramente, aprovadas
pelo legislativo.
Agora foi a aprovação da eutanásia, dentro de regras bastante
claras.
As igrejas e o Espiritismo, inclusive, são contra a eutanásia.
O argumento é que a vida não pertence à pessoa, mas a Deus e
só este tem o direito de tirá-la.
A questão é polêmica e defendida como um direito e como
manifestação do livre- arbítrio.
A vida terrena é preciosa. Mas há variações no processo que
precisam ser revistas pelos cânones religiosos. O suicídio é
um contra-senso, quando pretende livrar a pessoa de problemas.
No caso da eutanásia, aprovado na Holanda, o paciente precisa
estar consciente e desejar a morte, aceita por médicos que
emitirão parecer sobre a irreversabilidade da doença.
Preservar a vida é uma ação natural, dentro da lei de
conservação.
A dor e a visão materialista dão suporte ao desejo de evitar o
sofrimento inútil. As teses espíritas, que acreditam que sofrer
mais um minuto, um dia ou um mês é importante para purificar a
alma, são argumentos usados para vetar a eutanásia.
Apesar disso, e da pressão religiosa, a chamada morte
misericordiosa vem cada vez mais ganhando adeptos.
Expo-Espírita já faz parte do Calendário de Santos
A
EXPOESPÍRITA2000 atraiu um público significativo nos quatro
dias em que se realizou, nas dependências do SESC-Santos, com
boa repercussão na imprensa local e um público interessado em
todas os dias do evento.
O Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e os Centros
Espíritas Allan Kardec, Maria Emília da Motta Ferreira,
Missionários da Luz, 30 de Julho, Fraternidade Espírita,
Ângelo Prado e Lar Veneranda estiveram ativamente empenhados no
sucesso da EXPOESPÍRITA2000 que já faz parte do calendário de
eventos da cidade.
Palestras e Seminário
No dia 23, ãs 20 horas, inaugurando o evento, o psicólogo Jaci
Regis desenvolveu o tema A Lei de Causa e Efeito, abordado de
forma atual e fugindo dos estereótipos das abordagens que vêem
nessa lei apenas um aspecto punitivo e confundido com a lei de
talião. A repercussão do público foi demonstrada no número de
questões levantadas e respondidas pelo orador.
No dia 24, também às 20 horas, o seminário sobre A Busca de
uma Identidade Espírita , reuniu Ademar Arthur Chioro dos Reis,
médico e professor universitário que, a partir das
significações vocabulares da palavra identidade
construiu oportunas correlações com a identidade da Doutrina.
Em seguida o engenheiro Reinaldo di Lucia tratou do tema
identidade dentro de especificações paradigmáticas e
epistemológica. Finalmente, Roberto Luiz Rufo e Silva, filósofo
e tecnológo, preferiu enfocar a identidade da Doutrina a partir
de trechos da Revista Espírita. Após a palestra, houve muitas
perguntas, respondidas pelos oradores.
A partir do dia 25 a EXPOESPÍRITA2000 passou a funcionar no
período vespertino. Nesse dia, às 15 horas, o Coral CEAK Canta,
apresentou vários números e em seguida, às 16 horas, Sandra
Regis discutiu o tema A Mulher Atual na Dimensão Espírita e
expos reflexões que mobilizaram a platéia, com muitas perguntas
e troca de idéias.
Finalizando a série de palestras, no dia 26, às 16 horas, o
publicitário e jornalista Wilson Garcia fez intrigante palestra
sobre o tema Os Desafios do Espírito numa Sociedade de Consumo,
com muita participação dos presentes, precedido da
apresentação do Coral Infantil-Petrobrás, de Cubatão, cidade
vizinha a Santos.
A venda de livros foi significativa. Foram exposto quadros de
pintores espíritas. Além do espaço para confraternização,
bate-papo, foi oferecido a todos, gratuitamente, cafezinho, da
marca Café Brasileiro, gentilmente cedido.
Cartas Abertas
Estranheza
Li, com certeza
estranheza, no nº 158, setembro de 2000, do Abertura, o trabalho
intitulado Opções Temáticas na Obra de Hermínio C. Miranda,
de autoria de Wilson Garcia.
Pretendo expressar e justificar minha estranheza. Logo a
princípio o autor equipara Hermínio C. Miranda a Ernesto
Bozzano, salientando a capacidade de ambos para a pesquisa. Mais
adiante, quase no fim do trabalho, quando cita ...alguns
aspectos curiosos em Hermínio Miranda, talvez para
justificar a comparação diz Tem-se a impressão de que
escreve com o Aurélio e a Britânica ao
lado, a eles recorrendo constantemente... Sinceramente não
me parece.
Um único ponto citado no trabalho em questão, leva-me a duvidar
de tanto esmero no trabalho de pesquisa, atribuído pelo autor ao
escritor Hermínio C. Miranda: a suposição de que Martinho
Lutero tenha sido a reencarnação do Apóstolo Paulo.
Façamos uma comparação entre as duas personalidades.
Na primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 13, versículos 1
e 2, do Novo Testamento, diz o apóstolo dos Gentios: Ainda
que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse
caridade, seria como o metal que soa ou como sino que tine. E
ainda que tivesse o Dom da profecia, e conhecesse todos
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes e não tivesse caridade,
nada seria. O grifo é meu.
Qual foi o pensamento basilar da doutrina fundada por Lutero?
Simplesmente este: a salvação pode ser obtida somente pela fé.
Vai aí uma grande contradição filosófica.
Este, entretanto, não é o aspecto mais grave na suposição de
que Lutero tenha sido a reencarnação de Paulo. Nesta
suposição está latente a negação do caráter evolutivo do
Espírito, postulado importantíssimo da Doutrina Espírita.
Não pretendo aqui endeusar o Apóstolo Paulo ou diminuir o
mérito do fundador do Protestantismo. Absolutamente não. Estou
ciente das limitações do primeiro e a importância que teve o
segundo na História. Mesmo assim, entretanto, admitir tal coisa
seria admitir que o Espírito involui.
Façamos uma pequena incursão pela História. Depois de ter
traduzido a Bíblia para o alemão, Lutero teve suas idéias mais
ou menos consagradas na Alemanha e fora dela. O fato de o texto
bíblico não ser mais privilégio dos clérigos da Igreja
Romana, abriu novos horizontes para o povo.
As mensagens de fraternidade, justiça e igualdade entre os
povos, contidas no Evangelho, impressionaram de tal modo as
mentes das classes menos favorecidas. A ponto de provocar a
chamada Revolta dos Camponeses (1524-25). Tratava-se de uma
insurreição plenamente justa. De um povo humilde, sofrido e
espoliado por senhores feudais, cruéis e inescrupulosos, que
haviam aderido à Reforma apenas por questões políticas e para
poder abocanhar os bens dos mosteiros e dos bispos.
Lutero não podia conceber que se discutisse a autoridade dos
príncipes e dos senhores feudais, pois considerava-os
mantenedores e protetores da nova doutrina e não teve o menor
escrúpulo em exortar aqueles homens, reprimir o movimento e,
dessa forma, a Alemanha foi sacudida por sangrentas lutas em que
milhares de pessoas perderam a vida. Com essa tomada de
posição, Lutero assemelhou-se, e muito, à Cúria Romana que
ele tanto combatera. O Apóstolo Paulo, cerca de 1500 anos antes,
não teria feito isso. Entenda-se, depois de ter-se convertido
cristão.
Para finalizar, esclareço que considero importante o estudo da
reencarnação, mas essa preocupação exagerada de procurar
saber quem foi quem em encanações pregressas é um exercício
plenamente inconseqüente, não lança a mínima luz sobre coisa
alguma. Mas pode lançar, isso sim, muita confusão.
E, no movimento espírita brasileiro, as há de sobra. Tal
exercício já deveria estar circunscrito ao Primeiro Período do
Espiritismo, que Kardec intitulou da curiosidade.
P.S. Não estou convencido da participação de entidades
desencarnadas na Síndrome da Personalidade Múltipla. Pelo menos
não como causa. Como conseqüência, talvez. Gostaria de
conhecer a opinião de Jaci Regis, a esse respeito.
Nassif Cury São Paulo-SP
Padres e Pastores
O intrépido divulgador
Alamar Regis exprime, na Internet, sua euforia pela presença de
padres e pastores no 1º Encoesp, que a USE promoverá de 19 a 21
de janeiro do próximo ano.
Nós, aqui em Santos, há cerca de 20 anos atrás, também
tivemos essa experiência. O presidente do Centro Espírita Allan
Kardec, Egydio Regis, falou na Igreja dos Passos e o padre
Waldemar Martins Vale no Centro. Foi muito interessante,
fraterno, mas.... esses eventos servem apenas para uma
convivência entre diferenças. Porém. o Espiritismo não
precisa do beneplácito da Igreja, como parece fascinar alguns.
Porque, na verdade, os enfoques entre o catolicismo e o
protestantismo, isto é, do esquema de crenças do cristianismo,
é frontalmente contrário ao Espiritismo.
Geralmente quando existe essa troca de gentilezas, os discursos
são genéricos, paliativos. Um espírita não falará numa
igreja sobre a reencarnação, a comunicação dos Espíritos, a
lei da evolução e assim por diante. O padre omitirá a opinião
de que a Igreja é a única representante de Deus na Terra e que
a reencarnação é invenção, a comunicação com os mortos é
sacrilégio, coisa do diabo e assim por diante.
A presença de um espírita numa igreja é mera curiosidade. Mas
a presença de um padre pode influenciar o frágil sentimento
espírita desenvolvido no movimento, que como sabemos, é apenas
trabalhado no campo emotivo e místico, com ausência de
espírito crítico e do pensamento de Allan Kardec.
Seria ridículo supor um espírito de intolerância. Mas é
preciso manter a tentativa de preservação da identidade da
filosofia espírita. Essa mistura contribui para tornar ainda
mais emoliente e adaptativo o comportamento, muito em voga, que
pretende omitir as diferenças gritantes entre o Espiritismo e o
cristianismo, porque o que importa é ser bom. em
nome da fraternidade ou coisa que o valha. Esse tipo de
comportamento elimina o discurso revolucionário do Espiritismo.
E tanto pior na medida em que o movimento se enquadrar no esquema
do cristianismo.
Hoje a Igreja não perde mais tempo combatendo o Espiritismo. Mas
não por mérito nosso. Ela deixou de fazê-lo quando percebeu
que o movimento espírita cessou de oferecer perigo, se
evangelizavou, se tornou uma religião que quer ser aceita pelo
cristianismo. Não faz nenhuma sombra para a Igreja. Na verdade,
o movimento espírita é até quase parceiro das igrejas
cristãs. Onde entra aí o Espiritismo?
A Profanação do Sagrado
Aborto, divórcio,
eutanásia:o apocalipse. Aliás, o apocalipse sempre esteve na
demagogia de todas as religiões e na boca de todas as
cassandras, sempre prontas a denunciar que o fim está próximo,
que não há esperança. Essas atitudes seriam, adverte-se, fruto
do avanço do materialismo no mundo. É verdade. Mas é preciso
analisar o que seja esse materialismo.
No Manifesto Comunista (1848) Marx afirma tudo o que
sagrado é profanado, tudo o que é sólido se desmancha no
ar... representando a ruptura com o sagrado, com a
mentalidade religiosa e espiritualista que dominava a sociedade
ocidental no século 19, em processo de decadência..
De outro lado, o positivismo cartesiano impunha uma análise
mecanicista da vida e referia-se, tanto quanto o marxismo, ao ser
inserido no coletivo e não a sua singularidade.
Depois de 1945 a sociedade ocidental entrou efetivamente em
conflito com os valores cristãos, depois da carnificina e
começou a evidenciar o desejo de cada pessoa ser respeitada,
considerada, ser ela mesma.
Essa busca da singularidade representa o exercício pleno do
livre-arbítrio, as pessoas querem individualizar-se, sentir seus
sentimentos, comandar sua vida. Mas pode também significar o
desespero diante do nada.. O homem é um ser para a morte, diz a
filosofia existencialista: os outros são o
inferno...
Cresceu a ânsia de afirmação da liberdade e do valor do ser
humano, sempre colocado como refém da vida, da divindade, do
diabo e das circunstâncias.
Essa posição é atávica e invade tanto os pregões religiosos,
inclusive do Espiritismo religioso, como até das ciências. A
genética parece que caminha para afirmar que o ser humano é
vítima das combinações genéticas e os seus males
decorrem da combinações infelizes ou desvios dos genes.
A psicanálise, a psicologia embora com visões
materialistas procuram ressaltar a singularidade do
ser, sua especificidade mental e moral, como ser único É claro
que não se pode opor ao coletivismo marxista e cartesiano o
egocentrismo, o egoísmo. Mas uma posição de equilíbrio entre
o ser em si mesmo e o ser coletivo que todos somos, sem perder de
vista a essencialidade pessoal.
Onde fica o ser humano, o que é esse ser perdido na vida, sem
comandar seu destino, sujeito à doença e à morte. Muitas vezes
sem desejar viver ou viver onde vive e morrer quando quer viver?
Essa tentativa de singularidade do ser assusta as igrejas que
perderam o poder de ditar regras e de falar em nome de Deus e ter
legitimidade para isso. A liberdade é um bem essencial, mas tem
seus problemas, porque ninguém fere a Lei Natural sem
conseqüências para o próprio equilíbrio.
A tendência é duvidar das ordenações e ouvir menos esses
porta-vozes de Deus. O resultado é um caminho sinuoso, cheio de
perigos. Mas inevitável e sem volta.
A teimosia das crenças em permanecer estáticas, permitiu
avanços do niilismo. Todavia, como sempre, a humanidade
encontrará formas de recuperar o equilíbrio rompido.
Viver na Terra é uma aventura, um risco, mas é a forma
insuperável para encontrar a si mesmo.
Derrotar o Materialismo
O Livro dos Espíritos assinala que o Espiritismo contribuiria
para o progresso humano derrotando o materialismo, ali
identificado como raiz do egoísmo e do orgulho, as chagas
maiores do ser humano.
Entretanto, o Espiritismo tem fracassado porque pretendeu
derrotar o materialismo com as mesma armas do catolicismo, do
protestantismo, ou seja com o pensamento cristão, edificado pela
Igreja.
Assumindo a mesma postura de condenação do ser humano, exigindo
dele um comportamento sublimado, a doutrina espírita real,
emparelhou-se, essencialmente, com a doutrina cristã
aliás quer ser, de qualquer forma cristã - que é, por
natureza, absolutamente contrária aos postulados espíritas.
O erro foi confundir Jesus de Nazaré com o Jesus Cristo das
Igrejas . A nuance é muito clara. Não houve talento para
cumprir o papel de consolador prometido, de forma nova, diferente
das religiões. Absorvendo o apelo salvacionista da Igreja, o
Espiritismo real, no Brasil pelo menos, pretende amenizar o
sofrimento, mas legitimando-o. pela transformação da
reencarnação, que é instrumento da lei da evolução, em lei
de talião, punição, expiação e purificação.
Com isso, aderiu à posição cristã de que o ser humano é
pecador por natureza, porque é culpado de não seguir o Cristo e
ai por diante.
Deixou-se de lado a reestruturação mental das pessoas único
caminho de renovação positiva do ser espiritual.
Como em todas as religiões e sistemas, o Espiritismo real,
cristão, religioso, exige do Espírito reencarnado, o que se
exigiria de um cego :que veja, enxergue, desconsiderando o perfil
evolutivo percorrido por cada um..
Ele deve ser bom, fraterno, amigo, caridoso. E isso, afirma-se,
depende única e exclusivamente de sua vontade. Se querer, pode.
Se amar tudo se resolve. Eis aí duas vertentes que cada pessoa,
diz-se, pode perfeitamente executar: ter vontade firme e amar sem
fronteiras.
Como a maioria não consegue essa proeza, o resultado é dor,
castigo, punição.
Chega-se à triste conclusão que está tudo errado,. Que Deus
errou.
Afinal, desde a criação, segundo a Bíblia, nada tem dado
certo.
Adão não devia conhecer o sexo quando viu Eva. Conheceu e foi
expulso.
Caim matou Abel.
Deus, desesperado inundou o mundo e salvou Noé. Mas o resultado
foi um furo nágua. Mandou seu filho Unigênito para salvar
o ser humano, e ele foi crucificado.
A eterna dicotomia entre o bem e o mal, continua nas relações
humanas, sociais e políticas.
Entretanto, curiosamente, a humanidade caminha errando e
acertando, mas descobrindo novas formas de vivência, sempre
renovadas, insatisfatórias. Guerras, revoluções, líderes
carismáticos e sem carisma, compõem a historia do mundo, sempre
ameaçado pelos profetas de estar à beira do abismo. E talvez
esteja sempre mesmo `beira do abismo. Mas consegue reverter por
algum tempo o perigo, par enfrenta-lo depois..
Se o tempo não passasse soberano, a insanidade seria total. Como
Erasmo. no seu Elogio à Loucura, o Espiritismo precisava
desenvolver a loucura da busca, com a criação de parâmetros
contra-cultura, na contra-mão da correnteza cristã, oferecendo
uma alternativa compreensiva e flexível para o ser humano.. Fez
ao contrário, Acomodou-se, absorveu e luta pela reforma íntima,
com o mesmo fervor dos cristão pela salvação.
Não fosse as profanações dos esquemas religiosos, as
confrontações, a superação da ruína e a restauração,
permaneceria a Terra na idade da pedra lascada e pereceria.
Todavia, entender a loucura do progresso e da mudança às vezes
leva à loucura patológica.
Caminhos da Libertação
O ser humano é construção progressiva, exaustiva, repetitiva.
Agora a sociedade do fim do século 20 e entrando no século 21,
tenta a loucura da afirmação do ser humano, independente de
Deus.
Na verdade esse caminho primeiro leva à libertação de Deus das
amarras das religiões.
Elas se apossaram Dele e roubaram sua voz e falaram por ele.
Deus quer, Deus não quer, Deus mata, castiga, pune. Deus não
sorri, Deus não perdoa, Deus é arbitrário, fulminante. O ser
humano deve ajoelhar-se, humilhar-se, diante do Poder Divino, que
fulmina, separa, destrói.
Não temos certeza alguma de que esses porta-vozes falam. Não
possuem legitimidade e a vida tem desmentido a cada passo, suas
vozes falsas, solenes e comprometidas com sistemas e poder.
Certamente fizeram e fazem seu papel de controladores dos
impulsos humanos, pois jamais se viveria em sociedade não fossem
leis, costumes e tradições.
Mas quando essas leis, tradições e costumes cerceiam, inibem,
maltratam o ser este, pela própria natureza que lhes foi
outorgada pelo Criador, reage.
O materialismo, sob uma certa forma, deu ao ser humano
oportunidade de conhecer Deus de uma outra forma, mesmo negando-o
.
Com a profanação do divino, que o materialismo histórico
realizou, foi possível derrubar a parede erguida entre o sagrado
e o profano.
Não existe essa dicotomia. Foi estratagema dos sacerdotes para
manter o poder sobre as massas. Inventaram o sagrado e o profano,
para minimizar o ser humano. O profano é humano, detestável,
impuro
O materialismo histórico é uma forma de pensamento, uma visão
do homem e do mundo que elabora uma lei social humanizada,
apoiada na precariedade d vida terrena, mas valorizando-a como
única e final.
Pode conduzir ao niilismo, mas também ao humanismo.
Além desse materialismo que se diz científico, determinista e
politicamente correto, existe uma materialismo
cotidiano, que invade a mente e comanda o procedimento da
sociedade em geral. Isto é, confrontando-se com os fundamentos
espiritualistas que pretendem reduzir a vida terrena a uma
passagem breve para o eterno, a maioria entrega-se ao cotidiano
com o fervor materialista.
A maioria é materialista na maior parte do tempo e
espiritualista nos momentos difíceis, nos fins da noite ou da
semana.
Não fora a profanação dos critérios da cultura cristã,
estabelecidos pela Igreja, a ciência nem existiria propriamente,
nem a crítica e a busca da verdade seriam possíveis.
Não fora a profanação materialista e o ser humano continuaria
sendo apascentado para sofrer, humilhar-se, aceitar o poder e o
arbítrio sobre ele, pela minoria ilustrada, sem perceber seu
próprio valor.
Sob a proteção da Igreja a desigualdade social estabeleceu-se
como critério divino.
Vias Indiretas
Cremos firmemente na presença divina na vida.
Certamente fora do esquema das igrejas e Espiritismo religioso,
que é um caudal delas. Por isso, vemos nas profanações dos
códigos tradicionais uma forma indireta do ser humano
posicionar-se, com o tempo, dentro de uma visão larga, ampla,
conseqüente, moralmente equilibrada.
O caminho é árduo porque, pela primeira vez, as pessoas terão
que escolher. Por ora, a grande maioria se recusa a fazê-lo.
Prefere a palavra de Deus proferida pelo papa, pelos
sacerdotes, pelos pastores, pelos médiuns e seus Espíritos que
afirmam possuir a chave do céu e o caminho da felicidade. Querem
que esses porta-vozes divinos lhes indiquem o caminho, consigam
empregos, cura, sorte, bem-estar.
Mas esse castelo feito de areia desmorona conforme a realidade
espiritual se apresenta exigindo decisões.
A sociedade ocidental, cristã é injusta. As outras sociedades
religiosas do mundo permanecem confusas e estáticas, medrosas da
inevitável profanação aos seus símbolos e ordenações. Por
ora castram, usam da violência, do fanatismo para manter o
poder. Mas o mundo globalizado cria brechas nessas sociedades
fechadas.
A aceitação do aborto, da eutanásia, do divórcio, são
episódios da profanação dos códigos divinos estabelecidos
pelas igrejas. Possuem claros desvios e resultados
satisfatórios, necessários.
A verdade é que todos os seres humanos desconfiam da vida futura
e acreditam, temendo, apenas no poder discricionário e
arbitrário de Deus, desse Deus que foi construído pelas igrejas
para manter o domínio. A força interior que pede a imortalidade
ainda é frágil, porque o materialismo cotidiano, é
urgente para satisfazer a angústia diante da impotência desse
ser que vive sem saber porque, que enfrenta obstáculos e
morrerá certamente. Porque esse é o quadro real.
O Espiritismo poderia tê-lo mudado. Não sabemos se conseguirá
fazê-lo, como devia. Está demasiadamente contaminado pela
cultura religiosa do cristianismo que, como se sabe, perdeu-se e
se tornou incapaz de orientar o ser humano.
Pena que as multidões que procuram o Espiritismo o fazem pelo
sobrenatural que ele combate, pelo milagre que ele nega.
Fixando-se no assistencialismo e na salvação, o Espiritismo
pode perder o trem da história.
Mas o homem sobreviverá e saberá encontrar o caminho.
Deus existe.
O Espiritismo Consolidará...
... sua
estrutura filosófica e científica no século 21
Essa é a opinião de 57,14% dos que responderam à pesquisa
realizada, via Internet, pelo Abertura. Também 23,81 acreditam
que ele crescerá muito e aceito como alternativa para a
humanidade. 9,58% afirmam que a ciência aceitará a imortalidade
e reconhecerá o Espiritismo, enquanto 4,76% pensa que a ciência
tentará desmoraliza-lo e 4,76% dizem que crescerá no mundo
inteiro e será aceito como religião cristã.
No século 20 os entrevistados afirmam que o Espiritismo continua
bastante desconhecido no mundo (52,38%) e praticamente não
avançou (38,11%). A esmagadora maioria (71,48%) conclui que o
Espiritismo foi contaminado por idéias não compatíveis com
Kardec.
A influência do médium Francisco Cândido Xavier dividiu as
opiniões, 57,14% acreditam que ele ajudou a consolidar o
Espiritismo no Brasil e no mundo e aumentar o conteúdo
doutrinário. Outros 53,38% disseram que ele ajudou a criar e
consolidar a religião espírita.
A crítica dos resultados dos congressos promovidos, a partir de
1986, pelas Federações Estaduais e pela FEB, é bastante
ácida. Para 47,62%, eles serviram para consolidar o domínio da
FEB e 38,11% acham que não trouxeram contribuição
significativa para a Doutrina. Outros 14,28%, consideram que os
congressos foram excelentes processos de confraternização e
apenas 9,52% afirmam que contribuíram para melhorar a Doutrina
de modo geral.
No século 21, 76,19% crêem que os problemas do meio ambiente
melhorarão, com reação positiva para encontrar soluções.
23,8%, ao contrário, vêem as coisas piorarem e o aumento dos
conflitos.
Sobre a família, o próximo século será favorável para 80,96%
dos entrevistados. Enquanto 14,28% crêem que aumentarão os
conflitos.
A violência vai piorar para 42,86%, enquanto 57,13% pensa que
diminuirá e que serão encontradas soluções para ela.
Para 57,13%, a miséria diminuirá no próximo século, mas
piorará para 49,81%.
Já o Brasil, será melhor no século 21 para 85,71% ,enquanto
apenas 19,04% crê que vai piorar.