Da Redação - Abril de 2000

Lar Veneranda inova e promove

Analisando o relatório de 1999, o 45º ano da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, verificamos que a entidade transforma-se, a passos largos, ultrapassando os limites de uma creche ou serviço beneficente, para implantar novas formas de promoção das crianças e suas mães.

Além dos benefícios comuns, como alimentação, higiene, escola, a Comunidade tem desenvolvido, sob a direção da prof. Valéria Régis e Silva, intenso e extenso programa de desenvolvimento cultural das famílias envolvidas.

Nos dois últimos anos, a entidade desenvolveu o importante programa Vivendo Valores, da Universidade Kumaris, explorando, com grande intensidade os valores humanos, as relações entre as pessoas, visando o crescimento moral e espiritual de crianças e suas famílias.

Sob a direção da presidente, foram executados programas de intercâmbio com outras entidades, visitas culturais, passeios de lazer, principalmente para as crianças, mas também para as mães. Esse esforço destina-se a ampliar os horizontes das crianças e famílias, colocadas em situação desfavorável na escala social e que, com isso, recolhem subsídios para a criação de uma noção de cidadania.

A programação de palestras tem levado principalmente às mães noções de política, direitos e deveres sociais, além de estimular a alfabetização, ponto fundamental na filosofia da instituição. Estatisticamente, o Lar Veneranda, durante 1999, atendeu a 215 crianças e gastou R$ 239.884,33.

Lar Veneranda-II — Prosseguem as obras do edifício do Lar Veneranda-II, projeto do Centro de Cultura e Ensino Profissional, que a Comunidade está construindo à Av. Francisco Glicério, 261, no bairro do Gonzaga, em Santos.

O prédio, com quatro pavimentos, abrigará o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e cursos profissionalizantes para jovens de ambos os sexos.As obras dependem de recursos que a Comunidade angaria. O término está previsto para até o fim deste ano.

Livraria da Licespe comemora 25 anos

Há 25 anos, em 18 de abril de 1975, foi inaugurada a Livraria Espírita “18 de Abril”, instalada em loja de propriedade do Lar Veneranda, cedida na época gratuitamente, à R. Itororó, 11, no centro da cidade de Santos.

A livraria foi aberta pela Divulgação Cultural Espírita Editora (Dicesp), entidade participante do sistema de unificação da então União Municipal Espírita de Santos (Umes).Na abertura, além do presidente da Dicesp, Jaci Régis, falaram Haroldo de Paula, presidente da UMES, e o professor Altivo Ferreira, hoje vice-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB).

Homenageando o professor Francisco De Domênico, já então desencarnado, foi afixada uma placa com o seguintes dizeres:Ao Prof. Francisco De Domênico, divulgador do Espiritismo, a Homenagem da Umes-Dicesp.Santos, 18 de abril de 1975 Francisco De Domênico foi um grande divulgador do Espiritismo em Santos, seja em jornais ou em rádio, daí a justa homenagem.

Hoje, a livraria continua funcionando e passou a ser gerida, desde 1988, pela Livraria Cultural Espírita Editora (Licespe), órgão do Lar Veneranda.

 

Fato & Comentário

Corrupção e roubo

O noticiário da imprensa, da televisão, está tomado por casos de corrupção e roubo, perpetrados por autoridades constituídas, algumas eleitas pelo povo.Aliam-se os que superfaturam obras públicas, os que desviam verbas destinadas à fome, à saúde e à educação, os que se unem ao narcotráfico, que roubam a Previdência Social. Enfim, uma cadeia de corrupção, mostrando que os valores morais ainda estão muito longe da cúpula administrativa, dos políticos em geral.

Mas também corrói as pessoas comuns que vivem de propinas, extorquindo pagamentos ilegais para dar andamento a processos, evitar multas e acobertar desvios da legislação.

A corrupção, infelizmente, faz parte de nossa cultura, seja na hora de declarar o imposto de renda ou de furar a fila do supermercado ou mesmo do caixa eletrônico.Os centros espíritas em geral precisam abrir o debate sobre essa onda de corrupção, que se não é nova, está sendo cada vez mais denunciada. É preciso que os freqüentadores discutam, sejam alertados e formem, afinal, uma frente de cidadãos contra a corrupção em todos os níveis.

Dedicar-se exclusivamente aos mortos e doutrinar alienadamente as pessoas sobre valores sem perceber a realidade social é lançar pérolas aos porcos, para usar a expressão evangélica.Incentivar o cultivo do exercício da cidadania, alicerçada na ética espírita, é uma tarefa que os centros espíritas podem realizar, e isto não significa que se transformem em aparelhos de partidos ou funcionem como massa de manobra de políticos mal-intencionados.

O Futuro do Kardecismo

Temos insistido na necessidade dos participantes do movimento kardecista, reunidos informalmente ou não, em torno da Confederação Espírita Pan-Americana (Cepa), perceberem que tornou-se imprescindível a estruturação de um programa de ação coordenado para a expansão das idéias. Tornou-se essencial a discussão, ainda que informal, de uma agenda de trabalho, onde possam ser debatidas novas estratégias de atuação, com o objetivo de ampliar ainda mais o número de núcleos kardecistas, que cultivem ideário semelhante com relação ao progresso e expansão do Espiritismo.

Há de se considerar ainda que a insistência na discussão de processos teóricos e programáticos de atualização doutrinária, sem o devido preparo cultural e intelectual, pode redundar num círculo vicioso de elucubrações isoladas, sem maiores repercussões práticas.Lembremos, portanto, que todos os movimentos que tentaram, de alguma forma dinamizar a Doutrina, fora dos domínios da Federação Espírita Brasileira (FEB), do roustainguismo e do religiosismo, fracassaram, porque ficaram ora na disputa do poder, ora em circuito fechado de críticas; na verdade, apenas prestigiando a entidade e a ideologia atacadas com tal atitude.

O exemplo de Deolindo Amorim precisa ser considerado pelas novas gerações. Em vez de ficar atacando o roustainguismo, a FEB e o religiosismo de forma desmesurada e lamentosa, criou a Liga Espírita do Brasil. Ao invés de se sentir marginalizado pelo movimento espírita organizado sob a égide da FEB, fundou o Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB).

Deolindo realizou um grandioso trabalho cultural, escreveu, produziu, pensou o Espiritismo. Foi um homem de ação.Ao lado da discussão necessária para determinar um rumo ao nosso próprio pensamento e não ao pensamento do movimento majoritário, deveremos trabalhar praticamente, incentivando o surgimento de grupos, afinizados com o tipo de pensamento que elegemos, projeto fundamental para a expansão deste movimento de idéias, abrangendo regiões além das de Porto Alegre, Santos e São Paulo. Para isso, como já acentuamos, o XVIII Congresso Espírita Pan-Americano, que acontece em outubro deste ano em Porto Alegre-RS, será uma oportunidade maior para acertamos os ponteiros, a fim de evitar a dispersão de nossas poucas forças.

Indefinições

Analisando a maioria dos artigos publicados na imprensa espírita, encontramos duas posições que merecem ser analisadas.De um lado estão os que se preocupam em doutrinar.

Os artigos são doutrinantes, ou seja,  escrevem para ensinar ou reforçar os postulados tidos e havidos como definitivos. Escrevem sobre a imperfeição humana, as dores justas pela reencarnação, o caminho único do Evangelho e deleitam-se em exaltar a figura mitológica de Jesus Cristo.Nesse caso, não há espaço para reflexão ou mesmo para um questionamento sadio dos problemas humanos.

O outro tipo é dos que hesitam em tomar uma linha definida. Estão entre a cruz e a caldeirinha. Sim, reconhecem a excelência do Espiritismo, mas assumem o lugar do sujeito tolerante, do que não afirma, nem nega, muito pelo contrárioAcreditam que afirmar seria ferir a liberdade que cada um tem de pensar como queira. Ficam “em cima do muro”.

Se de um lado vemos que a capacidade de refletir e questionar fica descartada, em favor de uma cruzada da salvação da alma ou da reforma íntima, insistindo em lemas moralistas, no outro, cria-se o vazio da indefinição filosófica.

O fato de ter uma opinião determinada e firme não implica em desmerecer as opiniões diferentes. O que seria do mundo se as pessoas permanecessem sem definições, ainda que precárias e suscetíveis de modificação, ao longo do tempo?

Além disso, se no primeiro caso se nega a capacidade de refletir o pensamento espírita, no segundo, há a sua sonegação.

Em ambas as situações a Doutrina é prejudicada e são prejudicados os leitores, por que tais artigos não oferecem o alimento adequado para uma reflexão positiva e correta da realidade.