Artigo de Milton Medran Moreira - Maio de 2000

Opinião em Tópicos

 

O Caçador de Enigmas

De forma tão sensacionalista como a que criou o Mister M, a mídia global televisiva está explorando agora o “caçador de enigmas”, que promete “desmascarar todos aqueles que dizem se comunicar com os mortos”. Misto de padre e de parapsicólogo, Padre Oscar Quevedo nega ambas as condições: a de sacerdote, na medida em que rejeita o fundamento básico da religião, ou seja, a existência de um mundo espiritual que se conecta com o mundo material ao qual tantas vezes já deu testemunho da existência da vida após a morte, com as chamadas aparições de entidades espirituais, tidas pela Igreja como miraculosas, mas verdadeiras. E a de parapsicólogo, na medida em que, contrariamente aos maiores vultos dessa disciplina moderna, quer negar o evidente, testemunhado, por exemplo por um cientista do quilate de William Crookes que à frente de uma histórica comissão nomeada pela Sociedade Dialética de Londres, estudou por anos a fio extraordinários fenômenos de materialização de espíritos, documentados com fotos, com retirada de parte de tecidos das roupas com que apareciam, de mechas de cabelos, etc.

Pesquisa

Entrevistado pelo programa “Polêmica”, da Rádio Gaúcha, Padre Quevedo sustentou que a comunicação dos mortos e a reencarnação, defendidas pelos espíritas, não passavam de superstições, quando não de mistificações, alucinações ou fantasias. Ao final do programa, foi feita uma ampla pesquisa, onde a produção questionava os ouvintes sobre se davam razão ao padre do Fantástico ou às teses defendidas pelos espíritas. 67% dos ouvintes que se manifestaram abonaram a tese da comunicação dos mortos e da reencarnação, contra apenas 33% que deram razão ao “caçador de enigmas”. Foi uma vigorosa demonstração de que a mídia, por mais que se organize para preservar determinadas posições que favorecem as forças mais conservadoras, como a Igreja, por exemplo, que, claramente, exerce uma forte influência sobre a Rede Globo, esbarra diante de algumas questões que parecem estar se consolidando na consciência do homem neste final de século. Kardec diria que isso é o resultado da força das coisas.

Regressões

E, por falar em mídia, registro a reportagem de capa da ISTOÉ, n1594, de 19 de abril deste ano. Seu tema: regressão a vidas passadas. Tirantes os sensacionalismos de alguns depoimentos, como o do ex-presidente Collor que, por associações pueris, numa regressão, conclui ter sido Dom Pedro I, a matéria traz contribuições importantes. Uma é do Eng. Hernani Guimarães de Andrade, explicando algumas experiências com bactérias que estariam comprovando a ação do espírito sobre a matéria no processo encarnatório. E outra especificamente sobre terapias de vidas passadas, refere estudos que estão sendo feitos pelo Instituto Nacional de Terapias de Vivências Passadas – INTVP – e a Divisão de Medicina Nuclear da Faculdade da Pensilvânia. O estudo parte do monitoramento do cérebro do paciente durante as regressões. Observa-se aí que a área do cérebro que se ativa, durante as revivescências, é o lobo médio temporal, que é precisamente a região onde estão localizadas as estruturas relacionadas à emoção e à formação da memória. Se fossem meras fantasias – dizem os especialistas – a região a ser ativada seria a do lobo frontal.

Teses espíritas

Pouco a pouco, teses como a existência do espírito, sua sobrevivência após a morte, a comunicabilidade e a reencarnação, de amplo domínio público, neste início e fim de séculos, ganham espaço nos laboratórios e nas universidades. Pessoalmente, sempre que releio algumas previsões bastante otimistas de Kardec acerca da aceitação das idéias espíritas ao curso do século XX, interpreto-as não sob o prisma ufanístico de que, neste período, toda a Humanidade, ou pelo menos, todo o Ocidente se tornariam espíritas. Vejo-as como um prognóstico de que chegaríamos a esse período aproximando-nos de uma quase unanimidade na aceitação daqueles pressupostos básicos que compõem a doutrina espírita. A conquista dos valores filosófico-morais daí decorrentes (aqueles que conduzem à transformação moral e que, segundo o Codificador, serviriam para reconhecer o “verdadeiro espírita”) é questão muito mais lenta: “a madureza da humanidade fará dessa renovação uma necessidade”, escreveu Kardec em A Gênese, onde também afirma que não caberá ao Espiritismo “criar” essa renovação, mas apenas “secundar” o movimento de regeneração da humanidade. Como se vê, uma posição nada sectária, exclusivista ou salvacionista.