Artigo de Eugênio Lara - Março de 2000

Nada de Novo...

Pergunta-me um companheiro, por e-mail, o que penso a respeito da literatura mediúnica brasileira, especialmente a de autoria de um Espírito, um tal de Rammed. Respondo-lhe: nada de novo debaixo do sol. Essa frase bíblica se aplica a nossa literatura mediúnica. Tirando Chico Xavier, Waldo Vieira, Yvonne Pereira e Zíbia Gasparetto, o resto é o resto. E se formos analisar com mais cautela a produção dos autores citados, teríamos que fazer algumas restrições doutrinárias.

Nossa literatura mediúnica ainda não se livrou do “estilo Chico Xavier”. Basta ver a obra do Divaldo e de tantos outros médiuns psicógrafos, se é que são realmente médiuns. Em termos de informação de como as coisas funcionam do lado de lá, no mundo extra-físico, nada de novo. O que há é uma mera reprodução do já existente, e o que é pior, muitos livros psicografados ainda se espelham no modelo cristão, das igrejas. Todavia, a literatura psicografada vive hoje um bom momento, basta ver os índices exibidos pelos congressos de clubes de livro espírita, editoras, distribuidoras. Um momento quantitativo. Literatura de auto-ajuda, nesse final de século e início de novo milênio, está em moda. E em termos de auto-ajuda, a obra do Chico é singular e pioneira. Tem o seu valor, não podemos “jogar a água suja junto com a criança”.

A elaboração de uma nova mentalidade leva tempo, passam-se gerações até que consigamos cristalizar uma práxis verdadeiramente kardecista. Na medida em que os grupos espíritas forem se reformulando e procurando aplicar efetivamente o projeto de vida que o Espiritismo nos propõe, conseqüentemente a produção mediúnica terá outra cara, abordará outros temas, num novo formato. Isso já está acontecendo pela produção que vejo em alguns grupos espíritas e pela produção espírita independente, alternativa mesmo.

Não conheço o Rammed. Alguns livros do Sérgio são interessantes, da Mariluza Vasconcelos, mas no geral é a mesmice de sempre. E olha que aqui na Licespe recebemos livros do mundo todo, não estou dando um chute, mas baseado no que tenho visto em termos de produção mediúnica.

Sob o ponto de vista literário, a análise crítica é quase zero, não fossem algumas incursões do Herculano Pires, do Carlos Bernardo Loureiro e da Helena Maria Craveiro Carvalho, já desencarnada. Helena nos deixou uma obra interessante e um livro, Um Salto no Escuro, que teve indicação para o Prêmio Jaboti, o nosso Oscar da literatura brasileira. Belo livro, belos contos. Herculano também teve importante participação na construção da literatura brasileira e espírita. Qualquer enciclopédia que se preze tem seu nome como verbete.

A literatura mediúnica brasileira ainda não foi devidamente analisada sob o ponto de vista doutrinário. Essa deve ser, num primeiro momento, a análise imprescindível e preliminar mesmo. Há também que ser analisada sob o ponto de vista gráfico-editorial: tem um formato agradável? as capas são bem elaboradas? os títulos bem colocados? o texto foi bem revisado ? e a distribuição, o marketing, como são feitos ?

Também temos que retomar a tradição cultural e literária iniciada por Eusínio Lavigne e Souza do Prado, eles foram impiedosos e muito críticos na análise de algumas obras psicografadas por Chico Xavier. Humberto Mariotti, Francisco Klörs Werneck, o nosso mais emérito tradutor, também têm artigos a respeito do tema. A obra do Chico precisa ser analisada criticamente, estudada, pesquisada. Isso é doutrina espírita, é assim que o Espiritismo se auto-elabora, pelo nosso esforço intelectual. Mas, fico por aqui nessas reflexões iniciais. O tema é interessante, pois não podemos ficar alheios à enxurrada mensal de livros psicografados que desaguam no mercado livreiro espírita