Artigo de Eugênio Lara - Julho de 2000

Sou Minoria, mas Sou Feliz

Os grandes sistemas faliram e não dão mais conta dos problemas da atualidade. Tanto os sistemas laicos como os religiosos. Faliu o marxismo enquanto sistema ideológico, totalitário; o liberalismo que tenta sobreviver sob a roupagem neoliberal. O positivismo ainda subsistiu nas ideologias da “segurança nacional”, na sua influência na mentalidade dos milicos, que por muitas décadas dominaram as repúblicas de banana, latinas, entre elas o Brasil.

O cristianismo é uma doutrina decrépita, ultrapassada e sectária, tanto quanto o islamismo. Esse então, se constitui hoje num dos sistemas religiosos mais primitivos e intolerantes que se tem notícia. Basta ver a repressão contra a mulher. Quer ver se um sistema filosófico é humanista? veja o que dizem acerca da mulher, a pedra de toque de qualquer discurso ético.

O budismo se fragmentou em tendências. Os Hare Krishna ainda continuam com o mesmo realejo moralista em relação ao sexo, num discurso totalmente defasado da realidade. O esoterismo não é mais tão esotérico quanto se imagina.

O Espiritismo Cristão, um arremedo do cristianismo tradicional, com nova embalagem, se fechou em copas, avesso a qualquer tipo de transformação. Pobre doutrina que não sobreviverá às mudanças intensas que estamos assistindo. Chega a ser ridícula a sua postura em relação às modestas tentativas de ruptura na sua organicidade.

O espaço, portanto, está aberto aos sistemas alternativos, às doutrinas espiritualistas de autoajuda e todo um conjunto de seitas e correntes esotéricas que tentam resgatar a espiritualidade perdida. As religiões estão em crise, os grandes sistemas se desmoronam no ar e fica um aparente vácuo, um vazio existencial que gurus, falsos profetas e líderes carismáticos tentam preencher.

Talvez por isso que nunca tivemos tantos gurus como hoje. Tem para todos os gostos. Recentemente apareceu um no Jô Soares que se intitula o mais culto dos homens, com 99 anos e oito meses, sem um cabelo branco e com aparência de, no máximo, 70 anos. Omar Khayam, o nome deste senhor, que conhece mais de Espiritismo do que qualquer um desses burocratas que “dirigem” o movimento espírita.

Sua memória é tão prodigiosa que o sujeito lembra até das suas sete últimas encarnações. Eu, pobre de mim, nem me lembro direito o que almocei ontem, que dirá minhas últimas existências.

O novo guru, que saiu de sua toca, lá no Planalto Central, deu entrevista para a IstoÉ, foi entrevistado pelo Jô Soares por duas vezes, atendendo a pedidos dos telespectadores, esteve no programa Goulart de Andrande, na TV Gazeta. E dá continuidade a sua peregrinação para ensinar as pessoas a amar, a encontrarem a verdade.

Mas a mídia é implacável. O que importa é a audiência, seja o Mister M, Padre Quevedo ou Omar Khayyam, todos eles recebem os seus 15 minutos de fama e depois são esquecidos. Adorei quando vi o padre Quevedo no Fantástico. Pensei comigo: - em menos de dois meses esse anti-espírita, que o Herculano Pires punha no bolso na hora que queria, vai sumir do mapa. Dito e feito. Ele ainda sobrevive como o Padre Quededo no Casseta & Planeta, pois lá que é o seu lugar.

Difícil negar que em meio a essa crise de identidade religiosa e filosófica, o que vale é a pluralidade das idéias. O planeta virou uma pequena aldeia. Temos de aprender a conviver com os diferentes e divergentes. Os grandes sistemas e seus adeptos vão ficar falando sozinhos, continuarão existindo, mas terão de tolerar os que são diferenciados ideologicamente.

E eu, como kardecista convicto (não sou espírita religioso e nem cristão), um dos únicos rótulos que assumo, me acho no direito de expressar minhas idéias e meu comportamento, diante desses sistemas decrépitos, em meio aos gurus arrogantes e vaidosos, a toda essa estrutura que perdeu o sentido humanista que deveria nortear toda e qualquer atividade humana. De cara com tanta crise, o que vale não é a quantidade, mas sim, a qualidade.

Sou minoria, mas sou feliz.