Artigo de Alexandre Costa - Março de 2000

A Liberdade e o Livre-Arbítrio

O direito à liberdade e os meios para realizá-la são fundamentais para a sobrevivência do corpo e a livre manifestação do espírito. Ser livre também consistiria ser indeterminado no espaço e no tempo.

A liberdade por isso mesmo se mostra com características absolutas. Então, como nós, Espíritos encarnados poderíamos realizar uma liberdade absoluta? E. Sabemos o que é liberdade absoluta ?

Vejamos. Liberdade absoluta parte do conceito de absoluto: Que não depende de outro ou alguma coisa; sem limites ou restrições. Assim sendo, nada existe neste mundo que não dependa de outro ou alguma coisa para inteirar-se. Deste modo, há uma restrição à liberdade.

A realização da liberdade absoluta só teria sentido e total manifestação através do pensamento, pois ninguém mais além de nós mesmos poderíamos censurá-lo, e se o fizéssemos também seria por nossa livre escolha.

A mente material, (que eu chamarei de cérebro para diferenciá-la do espírito, princípio inteligente) é finita, têm pensamentos finitos, mecânicos, (mesmo que dirigida por um princípio inteligente que também governa intelectualmente fora da matéria). Sem a experiência do irrestrito dentro de cada um de nós, não poderíamos de modo algum conceber algo absoluto. Daí não podermos conhecer a liberdade absoluta.

Ao contrário, o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o espírito adquire a consciência de si mesmo. O espírito não teria mais liberdade se esta causa que faz com que ele escolha, fosse independente da sua vontade, algo que ele não pudesse controlar. Porque a causa, que é diferente da escolha, nunca está nele e sim fora. As experiências, os fatos, são os que fazem as circunstâncias e é nelas que o espírito têm a liberdade de escolher; exercitar seu livre-arbítrio.

Assim, tenho a liberdade de escolher (livre-arbítrio) entre uma ou outra coisa. Percebemos então que a existência de um fato (escolha) restringe a liberdade em algum ponto na medida em que eu tenho de escolher algo.

E, se eu escolhesse uma terceira opção? Decorre daí que a renúncia das escolhas possíveis por uma terceira escolha, seria a escolha da não-liberdade. Parodiando um filósofo famoso: a liberdade é e a não-liberdade não é. Ou melhor, não existe uma terceira opção, a liberdade está na natureza.

Entre matar ou morrer em uma guerra, só posso escolher entre um ou outro. Em doar ou não um órgão para salvar uma vida, só posso escolher uma entre duas coisas. Em seguir para norte, sul, leste ou oeste, só posso escolher entre ir ou ficar.

Temos o exemplo de dois homens que discutem o que é a liberdade. Para um é viver solitário numa montanha, para o outro é viver independente de convenções sociais, e financeiramente em seu apartamento no centro da cidade. Vemos que cada um tem a liberdade de escolher, usando de seu livre-arbítrio para decidir. A liberdade está no fato de existir uma escolha, enquanto que o livre-arbítrio é o motor, é ele que executa a ação. A liberdade está relacionada com o fato de que eu existo, e a minha existência dá sentido a isso. Não pode haver liberdade sem o sujeito. O livre-arbítrio é a ferramenta de que disponho para dar sentido ao fato da liberdade existir. Assim quando escolho dou vida à liberdade.

Após estes pontos analisados, temos nítida a diferença entre liberdade e livre arbítrio.

Esta questão deixa muitas dúvidas à medida em que nos aprofundamos em nossas digressões, exatamente pelo fato de não podermos conhecer essa essência.

A ocorrência desse fato leva, sem dúvida, a alguns atos distorcidos como a escravidão, o aniquilamento do pensamento livre, e da consciência de cada um.

Naturalmente o homem irá adquirir o entendimento destas “leis” e, usando de seu livre arbítrio, desfrutar de uma liberdade tão absoluta quanto a relatividade das coisas permitir.

Alexandre Costa é designer gráfico e presidente da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, do Centro Espírita Allan Kardec, de Santos-SP.