Artigo de Mário Franco - Ribeirão Preto - Abril de 2000

Espiritismo e Ciência

Tudo indica que os novos tempos sejam favoráveis ao desenvolvimento dos temas científicos do Espiritismo. Só que não se deve desprezar  o aspecto religioso, já totalmente integrado ao histórico contexto espírita, apesar de um certo exagero místico. Mas a fé raciocinada não atrapalha o inadiável processo de desenvolvimento do aspecto científico do Espiritismo que parou no tempo.Além disso, não se pode correr o risco de uma ruptura do Espiritismo, enveredando-se unicamente pelos caminhos do laicismo puro, que pode até se aproximar de um tipo de materialismo.

Torna-se urgente observar a tendência de união entre  ciência e religião, conforme previsão de Allan Kardec contida no início do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. A rigor, os aspectos religioso e científico não se excluem. Pelo contrário alguns setores da física moderna sondam nuances do terreno místico, enquanto alguns pesquisadores do místico buscam respaldo na ciência. Fala-se, então, na era do Espírito, pois a tendência de nosso tempo volta-se para a necessidade de desvendar cientificamente o lado oculto da vida.

O Espiritismo abriu, em meados do século passado, o caminho que leva ao desvelamento do lado oculto da vida por meio de um árduo trabalho empírico realizado por Allan Kardec, na quietude do abandono a que foi submetido, valendo-se do fenômeno mediúnico, por ele administrado com rigor científico que os recursos da época lhe permitiam. Descobriu-se, então, que a estranha força responsável por uma série de fenômenos paranormais, como movimento de objetos físicos, ruídos, vozes, luzes e o aparecimento espontâneo de objetos e corpos fluídicos, não apenas visíveis, mas até tangíveis, era provocada pela ação da vontade das almas dos homens que haviam partido deste mundo de formas materiais sensíveis, de natureza física.

Ora, a partir das experiências empíricas desenvolvidas por Kardec, utilizando-se criteriosamente do mediunismo, rasgou-se o véu que separa o lado oculto da vida, desvendando-se um novo cenário da existência humana, num inédito universo invisível, certamente de natureza extra-física e transverso ao espaço quântico relativístico que contém o universo físico, visível e mensurável, que teve início no tempo.

Trata-se, portanto, de um vasto campo de pesquisas científicas, cujos estudos teóricos devem ser retomados pelos intelectuais espíritas no sentido de despertar o interesse dos diversos segmentos da ciência, afins com a profundidade da ampla temática espírita, como no caso de uma nova Psicobifísica que possa enveredar-se por uma bordagem da natureza da alma humana, a partir da hipótese sobre a possibilidade das vibrações mentais, de inusitada natureza e freqüência de alto teor.

A Física Quântica certamente terá papel fundamental no campo do conhecimento espírita, desde que as lideranças intelectuais do meio espírita, mais familiarizadas com a Física Moderna, possam atrair os físicos mediante formulações de uma hipótese acerca da possibilidade da existência de um universo implícito, necessariamente de natureza extra-física, já que se enquadraria na probabilidade de uma realidade alternativa secundária oriunda da realidade quântica primária.

Creio que uma nova Psicologia, necessariamente fundamentada nas teorias psicológicas cognitivas, no sentido do domínio da consciência sobre os mecanismos mentais reflexivos que regulam as relações do homem com o meio ambiente, numa inédita abordagem que pudesse integrar teoricamente os mecanismos freudianos do inconsciente com as idéias do inconsciente coletivo de Jung, seria fundamental na busca dos elos de uma paligenesia da evolução humana.

Finalmente, devido à exiguidade de espaço e tempo, diria apenas que, quando afirmo ser o Espiritismo uma doutrina de fundo holístico, além de apresentar uma nova visão religiosa, refiro-me especialmente à mediunidade como um instrumento holístico por excelência, porque permite ao ser humano sintonizar-se mental e permanentemente com os outros seres inteligentes e com o todo universal, na formação de interrelações mentais fraternas, de fundo religioso, posto que inerente à sua própria natureza espiritual.