Artigo de Paulo Cesar Fernandes - Abril de 2000

Deolindo Amorim

Dois Livros, Inúmeras Lições

Deolindo Amorim escreve bem. De forma clara e concisa. Se valendo de uma cultura vasta e de um vocabulário nobre, bem elaborado, e sem qualquer resquício de pedantismo.

Apenas dois livros pude ler até a feitura deste artigo, deficiência que de público confesso, e da qual com o transcurso do tempo pretendo me livrar.Me chama atenção nos seus trabalhos, o volume de conceitos éticos por ele colocados. Somado a isto, encontramos um forte idealismo impregnando os mesmos.

Neste mundo baldo de idealismo sincero. Onde, em todas as áreas; digo todas as áreas não eximindo movimento espírita disto, vemos campear o mais rasteiro personalismo, o interesse permeando as relações entre as pessoas. Em tal contexto, a leitura de Deolindo Amorim, sem nos alienar, acaba nos deslocando a outra realidade. Projeta-nos a níveis maiores de idealismo, e mais ainda, nos aprofunda o respeito às demais individualidades.

Em “ Idéias e Reminiscências Espíritas”, quando se refere a alguma pessoa que não tenha as mesmas idéias que as suas, nunca deixa de referir-se ao fato. No entanto, a grandeza do seu espírito, sempre destaca os aspectos positivos da personalidade em questão, enfatizando-os em detrimento dos defeitos.

A certos momentos da leitura senti inveja do autor, por ter ele tido a possibilidade de conviver com tantas pessoas de ideais sinceros, trabalhadores abnegados de uma causa ou concepção de vida : a concepção espírita.

Refletindo sobre o momento atual, numa análise mais serena, me perguntava se ainda hoje, não teríamos nós a oportunidade de conviver com companheiros sinceros em seus ideais; e, muitas vezes, em função da estreiteza de nossa visão, talvez deturpada por preconceitos e sectarismos, estarmos sendo incapazes de lhes perceber os valores mais profundos. Tais pessoas podem estar  em nossa casa espírita, ou mesmo na simples caminhada da vida, comungando uma infinidade de idéias e sonhos.

Nesse aspecto, a leitura de “Idéias e Reminiscências Espíritas” e de “ O Espiritismo e os Problemas Humanos”, não só ampliaram conhecimentos espiritistas, como diz o próprio Deolindo algumas vezes; mas me permitiu perceber mais profundamente, ou reafirmar a certeza que a idéia espírita, por si só, traz em seu seio força suficiente para mudar o mundo. Unindo as pessoas através de laços muito mais profundos que os da consangüinidade.

Segundo Herculano Pires o “Reino é como semente: começa na germinação oculta e solitária, dentro de cada um.” (O Reino - Edicel)

Eu diria mais ainda: o verdadeiro Reino só se consolidará, a partir do momento em que consigamos perceber valores positivos e negativos dos que nos comungam a marcha; e, a partir de tal compreensão, os amarmos da mesma forma, independentemente de qualquer coisa, pelo simples prazer de amar. Hoje nos é impossível aquilatar, mas que felicidade não nos trará este momento.

Só através de afeições puras e desinteressadas, e do mais profundo idealismo no tocante à força da idéia espírita, poderemos sonhar com a possibilidade de um mundo novo.

Tudo que disto se distancie, acabará apagado no tempo, como tantas outras mediocridades que a história sequer registra.

São os “loucos”. E além dos loucos os idealistas sinceros de qualquer área de atuação, que verdadeiramente fazem a história, ou mudam sua trajetória. E os demais ? Infelizmente os demais apenas seguirão em suas vidinhas vazias de significação.