Artigo de Jaci Régis - Junho de 2000

CÉREBRO E ESPÍRITO

Enquanto a ciência procura encontrar nos mecanismos cerebrais a sede de todas as capacidades afetivas e cognitivas do ser humano, o Espiritismo postula a ascendência do ser espiritual como sujeito da vida.

A descoberta de centros cerebrais que respondem a estímulos específicos, como por exemplo, a tomada de decisões, assusta aos cientistas que se preocupam com a possibilidade de, no futuro, serem desenvolvidos mecanismos capazes de manipular as capacidade de julgamento das pessoas, mediante a intervenção nos centros do suposto comando da vontade do ser humano.

A profunda correlação entre o Espírito e os centros cerebrais é fundamental para que possa existir a relação existencial. Todavia, mesmo com as experiências e investigações realizadas e notificadas, incluindo o projeto genoma que mapeou o complexo genético do corpo, muitos pesquisadores chegam à conclusão de que ”algo” fora do cosmo cerebral comanda suas funções.

Embora a pesquisa se realize dentro da visão que reduz o ser humano a um organismo vivo, fica claro que a existência de núcleos específicos para determinadas funções, leva à questão de como é feita a coordenação das respostas e iniciativas comportamentais.

A descoberta dos neurotransmissores, revolucionando a compreensão sobre o funcionamento dos impulsos cerebrais, abriu uma nova via de estudo do comportamento. Atribui-se, empiricamente, que muitos comportamentos seriam determinados   devido ao aumento ou redução dessas substâncias que exercem inegável influência nas reações humanas.

Em todos esses casos, permanece o problema de quem ou o que desencadeia a resposta e porque essa resposta é tipicamente pessoal, criando um vazio sobre a natureza da personalidade humana e a motivação profunda das decisões, medos e estados mentais diferenciados.

A tentativa de qualificar geneticamente os distúrbios mentais mais profundos, como a esquizofrenia e procurar circunscrever desvios de comportamento a azares genéticos, como o alcoolismo e o homossexualismo, seguem a lógica decorrente do fato de sendo o ser humano apenas um organismo, seu comportamento deverá necessariamente depender da combinação aleatórias dos genes e fatores circunstanciais na estruturação corporal.

Essa lógica, por fim, levaria a afirmar que o caráter, a personalidade são formadas aleatoriamente, ao acaso e, consequentemente ninguém poderia a rigor ser responsabilizado por comportamentos anti-sociais ou agressivo, violento, uma vez que seriam fatores genéticos os que realmente determinariam as ações das pessoas.

O comportamento humano é complexo e as pesquisas que reduzem-no a reflexos condicionados, a condicionamentos operantes e exercícios de estímulo e respostas não conseguem, como é óbvio, resolver o modo como cada pessoa se posiciona e como reage tão especificamente às condições do ambiente e das pressões existenciais e afetivas.

A coordenação, esse “algo” além do cosmo cerebral detectado pelos pesquisadores mais atentos, é certamente o Espírito, ser espiritual independente do corpo, como ensina a doutrina e não um substrato psíquico desconhecido que, na visão materialista, se reduz ao mesmo organismo.

Para nós, espíritas, esse ser espiritual justaposto ao organismo e dele se utilizando para sua complexa expressão de vontade e percepção do mundo externo, desenvolve uma estratégia de vida muito individual, ainda que necessariamente ligado solidariamente ao meio ambiente familiar, social, humano.

ESPÍRITO E MATÉRIA

Essas pesquisas e revelações impõe uma renovação no modo de pensar espírita acerca da relação corpo e Espírito. As expressões místicas que defrontam o Espírito e seu organismo de forma mais ou menos pejorativa precisam ser revisadas.

Expressões como o Espírito é tudo, o corpo é nada, precisam ser revistas porque se encaixam na visão da vida corpórea como um exílio e colocam a alma em contraposição ao organismo. Na verdade quando se diz que “o Espírito se serve do corpo” não podemos pensar um separado do outro, como um fosse o condutor e o outro mero veículo..

Na encarnação, o organismo não representa em si mesmo, um obstáculo à manifestação da alma, como se deduz de muitas expressões espíritas, mas um associado ao fluxo da vontade e do pensamento do ser, na sua relação com o mundo externo.

Sem dúvida o Espírito não depende do corpo, porque é um ser delimitado, expressivo e uno. Mas na encarnação e na chamada vida errante, mais apropriadamente designada de vida extra-física, o ser espiritual liga-se necessariamente a organismos sejam os criados no processo reprodutivo humano, seja na constituição de corpos de matéria extra-física, o psicossoma ou perispírito, criados à imagem do corpo físico e mantidos pelo pensamento contínuo.

Durante a encarnação, ainda que mantendo sua identidade espiritual, o ser humano é uma relação unívoca, entre o ser espiritual e o ser físico, constituindo uma unidade complexa de relacionamento vibracional.

Embora não se tenha uma idéia clara de como se dá a ligação mente espiritual e cérebro, é fora de dúvida que a interligação Espírito e corpo se processa nas circunvoluções e mecanismos cerebrais.

A psicoesfera pessoal é, assim, a expressão básica dessa interrelação por projetar combinações físico e psíquicas, integrando o sistema celular com as vibrações da mente espiritual e do cérebro.

Ao estudar as funções cerebrais com instrumentos cada vez mais precisos, a ciência está, a meu ver, descobrindo a imensa capacidade do Espírito através da maravilhosa composição da estrutura cerebral adequada ao nosso potencial de inteligência e sentimento.