Capa - Maio de 2000

Editorial

A Influência do Espiritismo

Após 143 anos da fundação do Espiritismo, pode-se fazer, com isenção, um balanço da influência do Espiritismo na sociedade. É preciso, em primeiro lugar, apontar que o seu surgimento deu-se na Europa, num momento delicado da cultura espiritualista ocidental. Movimentos como a Teosofia, dentre outros, acrescido, já neste século, de uma invasão das crenças orientalistas, criou um caldo de cultura espiritualista de variada gama e objetivos.

Todavia, essa cultura espiritualista vagueia sem tornar-se o centro real das aspirações humanas, sufocadas pelo realismo materialista e pelo niilismo moral.

O Espiritismo não tem, especificamente, uma existência consistente na maioria dos países ocidentais, com exceção do Brasil, onde, desde seu início, misturado com a homeopatia e médiuns curadores, ganhou uma expansão notável, mormente devido ao sentido de caridade benemerente que o movimento desenvolve, respondendo às carências sociais.

Atualmente o Espiritismo ganha coloridos religiosos evidentes e persistentes, é catalogado e aceito como uma das várias doutrinas alternativas, principalmente pela abrangência que os termos Espiritismo e espírita ganharam na sociedade brasileira, designando fatos mediúnicos que não têm necessariamente ligação com a doutrina kardecista.

E isso se deve ao fato do movimento espírita ter se desenvolvido sem uma ligação definida com o pensamento filosófico de Allan Kardec.

Em outras palavras, o Espiritismo brasileiro projetou-se pela caridade benemerente, pela cura mediúnica, como forma de aconselhamento dos Espíritos e não pela filosofia, pelo pensamento.

Por isso, a inegável aceitação social do Espiritismo, seja ele oriundo de Kardec ou não, decorre antes da liberação social, permissiva com as várias correntes alternativas e libertada do centralismo católico, do que pela excelência do ensinamento espírita.

Na verdade, os princípios da Doutrina caíram no domínio público, num clima nebuloso, impreciso, sem maior profundidade, sob extrema variedade de interpretação. Procura-se enquadrar o sofrimento, os problemas humanos, numa forma frágil de pensar, em que os velhos princípios judaico-cristãos, sobre culpa, castigo e expiação, continuam com grande influência.

O Espiritismo é conhecido, suscita curiosidade e é procurado como uma tenda de milagres, mas a doutrina de Allan Kardec permanece à margem dos problemas humanos, sem impor-se como uma alternativa de impacto, diante da crise moral e espiritual de grande parte da sociedade moderna.