Artigo de Jaci Régis - Maio de 2000

Buscando Respostas

A jovem trazia nas mãos um pequeno livro. Tinha sido presenteada pelo pai, como forma de ajudá-la a superar o mau humor constante.

Tinha pouco mais de 18 anos. Morena, alta, um belo corpo. Estava naquela idade em que a jovem se transforma em mulher, no sentido corporal.

Mas, dificilmente sorria. Parece que algo sempre a contrariava. Os pais a criticavam por que se irritava muito facilmente e repelia, muitas vezes, algum carinho ou tinha dificuldade em ouvir e dialogar.

Inteligente, irrequieta, aluna do primeiro ano de Direito,ela lera o pequeno livro. Mas ao invés de encantar-se com os conselhos que ali se dava, na tentativa de ajudar o leitor a superar problemas de comportamento, mal-estar ou rebeldia diante da vida, fez uma lista de alguns dos conselhos que o autor colocou nas suas páginas.

E veio até mim, para tentar respostas às suas perguntas.

-Fiz uma relação de conselhos. Muitos nem sequer me interessaram. Alguns podem ser que me ajudem, se puder entendê-los. Você poderia ajudar-me?

-Vou tentar, mas será que eu conseguirei agradar-te?

-Depende das suas respostas, disse, com leve sorriso.... Mas vamos lá. A primeira questão é esta: “Pense positivamente”, o que significa isso? Como fazê-lo?

-O pensamento é a expressão modulada da alma. Modulada porque tem vibração. Mas não pense que o pensamento é uma mera expressão das circunvoluções cerebrais. Pensar significa muito mais.

-Como assim?

-Em primeiro lugar, o pensamento é matéria, matéria mental, que tem definições especificas. Desse modo pensar é criar imagens. Imagens essas que podem ter uma sobrevida de acordo com a intensidade do pensar.

-Se é assim, o que significa pensar positivamente?

-Como não se pode desvincular o pensamento da natureza da alma, pensar positivamente é desenvolver uma visão de si mesmo e das coisas saudável, ou seja, ressaltar pontos positivos de cada pessoa e ocasião. Isto é, pensamos exprimindo estados de sentimento, de ansiedade, de medo, de esperança, de amor e ódio.

-Isso se encaixa na próxima questão, disse a jovem pensativa:o que é sentir equilibradamente?

O sentimento é a parte mais volátil da alma, mexe com toda a base da individualidade. Nesse patamar podemos entrar em profundos desequilíbrios, pois temos que de lidar com sentimentos como o medo, o ciúme, a inveja, no caminho da exploração mais positiva que nos levará à fraternidade, ao amor, enfim..

-O amor é então desequilibro?

-Não, de forma alguma. O amor é a forma de equilíbrio mais procurada. Mas nem sempre encontrada, porque ele é o sentimento que nos liga aos outros, que provoca a troca emoções.

-Então sentir equilibradamente quer dizer não ir aos extremos?

-Sob certa forma sim, porque toda a idéia de equilíbrio é o caminho do meio, a forma que supera os apelos dos extremos. O desejo é natural, mas deve condicionar-se à realidade. O amor não pode ser confundido com posse. A verdade não quer dizer violência, mas compreensão. Enfim, a gama de contradições é grande.

-Poderia se mais resumido?

-Creio que o equilíbrio do sentimento começa quando reconhecemos o outro. Ou seja, quando compreendemos que as outras pessoas são, como nós mesmos, cheias de intenções e problemas.

-É difícil escolher o caminho..

-Certamente é uma decisão difícil, mas devemos procurar escolher o caminho que responda às necessidade do coração.

O coração nos prega muitas peças...

Isso é verdade, porque somos muito frágeis nas questões do afeto. Mas se escolhemos um caminho saudável e nele persistimos, o resultado será positivo.

-Dê um exemplo...

-Penso que o melhor caminho será encontrar a alegria de servir, ou seja, deixar fluir a emoção na relação construtiva com a vida. A forma construtiva de viver é crer no bem e cultivar um otimismo moderado, que nos impulsione, mesmo diante dos problemas.

-Parece interessante, mas é duro mudar as coisas....

-Sem estar disposto a mudar , estar aberto a ouvir e analisar idéias, comportamentos, sugestões e, por fim , decidir por si mesmo, não será possível crescer mental e espiritualmente.

-Parece complicado.

-Nem tanto. Às vezes tudo muda quando vemos as coisas de forma diferente da usual, quando deslocamos o egoísmo e o medo de que aceitando e atuando mais compreensiva, ficaremos prejudicados. O egoísmo pode ser camuflado por razoes, queixas e acusações mil. Mas será sempre egoísmo, isolamento, infelicidade.

-Viver é uma barra....

Veja só, vida todos temos. Nos foi dada. Viver é nossa responsabilidade. Não se pede saltos, nem mudanças sem base. Mas uma melhor interação com nossos sentimentos e a compreensão de que aproximar-nos, amarmos é sempre um risco, mas sem nos arriscarmos nunca seremos felizes.

-Felizes? Ela fez um gesto de dúvida.

-Por não, se todos temos direito ao prazer e ser feliz?

A jovem calou-se. Parecia meditar. Quem sabe confusa, medrosa, titubeante nos passos a serem dados. Então, abracei-a com ternura e lhe disse, olhando nos olhos:

-Esse rol de atitudes que definem o rumo a seguir, parece bastante difícil de ser seguido. Entretanto, tudo se resume na definição de nosso desejo e os objetivos que temos em mente.

Se observarmos que quanto mais abertos à vida mais aprendemos e melhor nos situamos, muito dessas atitudes decorrerão naturalmente do entendimento que nos permite ver a nós, os outros e a vida, numa ótica nada egoísta, mas com percepção de que podemos ser mais feliz do que somos a começar por nos amar, com o levantamento de nossa auto-estima, pela eleição de caminhos que produzam respostas satisfatórias para nossa alma.