Artigo de Jaci Régis - Julho de 2000

O Bilhete

O grande envelope trazia a revista Panorama Sul, editada na cidade de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro. E um bilhete, dizendo que estava nela publicado “Mensagem aos indecisos, “crônica publicada neste Abertura.

O bilhete era de Denir Lopes, residente em Volta Redonda e uma dos mais antigos e fieis assinantes do Abertura e, antes dele, do Espiritismo e Unificação, que era por mim dirigido.

As palavras de Denir certamente são generosas. Mas servem de estímulo para que continue meu trabalho e também para não desprezar o valor das palavras, escritas num jornal, quando encontram eco nos corações.

Anteriormente, referi-me ao prazer de saber que, mais de 20 anos depois de editado, Amor, Casamento & Família, continuava seu caminho em sintonia com pessoas distantes, desconhecidas , mas que se faziam amigas e presentes pelo pensamento e pela utilidade dos conceitos do livro.

Com Denir é um pouco diferente. Nunca nos vimos pessoalmente, mas sabemos da existência um do outro. Ficamos sem contato anos inteiros, mas quando chega uma carta ou um bilhete dele, sei quem é, onde está e que continua com seu trabalho, diferente do meu , mas que, estou certo, preenche seu coração.

E se transcrevo suas palavras, mesmo sem sua licença, faço-o não apenas para meu deleite, mas para criar nos leitores destas crônicas um vínculo estreito de respeito, amizade e de cumplicidade na divulgação de idéias que possam, de uma ou de outra forma, ajudar as pessoas a encontrar seu caminho, rever o eixo de suas vidas.

Diz Denir : Olá Jaci, Paz na tua alma.

Desculpe-me o tratamento simples; digo-o, todavia, conheço-te nos teus artigos, há mais de vinte anos e considero-te, até mesmo, um mestre para mim. E, alguns amigos do meio espírita em que atuo, perguntam-me por vezes, “onde aprendeste isso”e cito teu nome.

Envio cópias de artigos teus para as alma humanas feridas da depressão e leio os teus artigos nas palestras que faço em nosso Grupo de Fraternidade. É, pois, daí que o editor da revista pediu-me a página que eu lia e a fez publicar.

Envio-te o exemplar como um pequenino presente de gratidão, pelo muito que aprendo de ti, pois sou assinante do Abertura e digo-te que as tuas crônicas escritas têm realizado o soerguimento de almas tristes e angustiadas, entre as muitas que me buscam para a palavra amiga e honesta que possa trazer-lhes até mesmo a força para a tomada de decisões firmes para o equilíbrio emocional e uma vida melhor.

Para mim, no entanto, como mestre ou professor tens trazido a clareza da visão espírita, tão lá na frente daqui observada e sentida no meio dos espíritas ainda cristalizado nas teses de decênios atras.

Um grande abraço amigo, Denir.

Reuni 30 crônicas publicas no Abertura, no livro Caminhos da Liberdade, editado em 1990, e que não alcançou muito sucesso. Compreendo que a maioria dos leitores gosta mais de livros romanceados, principalmente de autores desencarnados, quase sempre mais pela magia da psicografia, do que pela qualidade do texto.

Entretanto, a crônica é um encontro breve, uma conversa rápida sobre um tema corrente, um acontecimento, que traz em si um ensinamento, uma mensagem, por retratar a experiência real, vivida por pessoas comuns, suportando muitas vezes, problemas afetivos difíceis.

Por exprimir fatos da vida real, embora dramatizados, a crônica às vezes parece que foi escrita para quem lê. Fala-lhe nas letras que se tornam vivas e saltam do papel como vozes surgindo no interior d’alma, de temas que estão presentes no dia-a-dia e que, por isso, podem realmente trazer algum alívio.

Pois na solidão, alivia saber que outros também passam por problemas iguais ou semelhantes aos que nos envolvem e que, por isso, não estamos tão sós como nos sentimos. Então, acontece que fantasiamos nos pensamentos, imaginamos conhecer os que têm as mesmas aflições, dúvidas ou questões e falamos sem palavras e ouvimos sem som, seus corações falarem e baterem como o nosso e nos sentimentos menos infelizes e, mesmo, fortalecemos nosso ânimo na busca de uma saída.

É bom saber que não estamos sós e que não existem becos sem saída na vida afetiva. Que há sempre uma forma, uma oportunidade, de encontrar um meio de livrar-nos da depressão, buscarmos e sentirmos que somos capazes, que temos o direito à felicidade.

As palavras de Denir, como outras tantas manifestações orais e por escrito que chegam até mim, como já tenho repetido, rompem a barreira do silêncio que se ergue depois que passamos para o papel a emoção que nos invade a alma, pois cada crônica está impregnada de sensibilidade, de choro, de pensamentos, de certezas e incertezas com que se tece o tecido vibrátil e, não raro, misterioso da vida.